Casa de Criadores é ápice de época em que moda autoral se destaca
Aquele ditado de que a criatividade aflora em momentos de crise parece ter encontrado eco nesta temporada de desfiles, que terminará entre os dias 26 e 30 deste mês com a Casa de Criadores, em São Paulo.
Se as marcas independentes foram as responsáveis por salvar uma programação deficiente de grifes que conseguem unir criatividade e poder econômico como foi a da última São Paulo Fashion Week, também devem ser os pequenos que responderão a uma certa letargia da moda nacional nesta edição da Casa.
A escalação de marcas espelha o desafio do evento em dar respiro à overdose do combo saia mídi, blusa e calça jeans que teima em aparecer como suprassumo do estilo nos desfiles brasileiros.
O mineiro Fabio Costa, da grife NotEqual, é uma das estreias do calendário que promete levar uma moda sem gênero de qualidade.
Participante do reality americano “Project Runway”, Costa tem um apelo matemático em suas roupas de modelagem desconstruída para formar silhuetas descoladas do padrão do varejo.
Também foi escalada para o line-up renovado de desfiles a dupla Alex Santos e Van Loureiro, dois jovens estilistas do projeto Periferia Inventando Moda, da prefeitura de São Paulo, que levou cursos profissionalizantes à comunidade de Paraisópolis, na zona sul paulistana.
Na mesma onda de estreias que tomou a última programação da SPFW, a Casa de Criadores abrirá as portas para o pernambucano Jorge Feitosa, que pretende fazer um desfile focado em divindades e mitologias.
Deverá ser uma edição de extremos, com marcas que transitam entre o impacto visual de Isaac Silva e o trabalho minucioso feito à mão, como o do estilista carioca Marcelo Von Trapp. Sua marca, a Von Trapp, inflará a ala minimalista artesanal que desfilará no MAM-USP, onde ocorrem as apresentações.
Será no último dia, porém, que um dos estilistas mais interessantes da nova safra paulista entrará na boca de cena. Baseado em Campinas, Vicente Perrota destilará ideias sobre gênero e identidade sexual numa coleção de “upcycling” --termo da moda para definir roupas aparentemente desconectadas que, refeitas por um estilista, assumem cara nova.
A partir do que se viu em maio no Dragão Fashion Brasil, em Fortaleza (Ceará), na última São Paulo Fashion Week e na lista de grifes da próxima Casa, não seria exagero dizer que este ano marca o início de um momento mais prolífico e liberto de códigos do passado para a moda nacional.