Ceni sobe com o Fortaleza e alcança 1º sucesso na carreira de treinador
Um dos jogadores mais vitoriosos do futebol brasileiro, Rogério Ceni, 45, obteve seu primeiro triunfo como técnico neste sábado (3).
Ele não levantou um troféu de campeão, mas o sabor é parecido. O treinador colocou o Fortaleza de volta na Série A do Brasileiro após 13 anos —a última vez que o time cearense havia disputado a elite do futebol nacional foi em 2006.
O acesso foi conquistado com a vitória sobre o Atlético-GO por 2 a 1, fora de casa, pela 34ª rodada da segunda divisão nacional. Assim, chegou aos 64 pontos e não pode ser mais alcançado pelo quinto colocado, hoje o Vila Nova.
O acesso foi a primeira glória do agora treinador na nova profissão, após passagem frustrada pelo São Paulo, onde foi demitido após sete meses de trabalho em 2017. A história de 25 anos no clube e os títulos conquistados que lhe renderam o apelido de “Mito”, não foram suficientes para mantê-lo no cargo após a equipe entrar na zona de rebaixamento do Brasileiro.
Rogério Ceni foi anunciado pelo Fortaleza há praticamente um ano —no dia 10 de novembro. O acordo, articulado durante uma semana com conversas ao telefone e fechado após uma reunião de cinco horas em São Paulo, surpreendeu muita gente.
“Ele tinha outras propostas, mas aceitou a nossa. Oferecemos um salário maior do que era a nossa previsão e ele cedeu aceitando receber menos do que ganhava no São Paulo”, disse o presidente do Fortaleza e idealizador da contratação, Marcelo Paz, que não revela o salário do técnico.
Pelo acordo, Ceni ganha uma porcentagem dos patrocínios que o clube consegue fechar para ele.
Atualmente, nos uniformes de treino, o ex-goleiro usa a logomarca da Servis, do ramo de segurança. Em jogos, o ele costuma usar traje social, sem mostrar a marca de apoiadores do clube, como fazia no São Paulo.
“É uma fonte de extra de receita para o clube também. O valor [do patrocínio] é dividido entre o Fortaleza e o Rogério”, afirmou o dirigente.
Quando chegou ao Fortaleza, Ceni pode levar profissionais de sua confiança. Trabalham com ele no clube o preparador físico Danilo Augusto, o auxiliar técnico Nelson Simões, o francês Charles Hember para ser supervisor técnico, e o preparador de goleiros Haroldo Lamounier, contratado em fevereiro após a saída de Bosco, outro que havia intermediado sua contratação. Todos já conhecidos de Rogério da época de São Paulo.
Ele também solicitou e foi atendido com mudanças estruturais. Pediu a construção de um campo adicional na sede do clube, além de uma academia nova. O treinador também mudou o local de treinamentos da na sede perto do centro da capital, no estádio Alcides Santos, para o CT em Maracanaú, a 24 km do centro de Fortaleza, onde ficavam as categorias de base.
No local, o clube reformou refeitório, vestiário, sala de imprensa e da comissão técnica, além de melhorar os campos de treinamento. Ceni sugeriu mudanças até na alimentação dos jogadores.
“Ele não é pidão, mas sim exigente. Nada de exagero, frescura ou preciosismo, mas deseja que as coisas funcionem bem”, diz Marcelo Paz.
“O CT em Maracanaú era muito grande, mas estava subutilizado. O Ceni pediu para que os treinos fossem realizados lá para ter mais isolamento. Fizemos um investimento de aproximadamente R$ 300 mil em estrutura, mas foi importante. Fica como legado”, completou o dirigente.
Apesar do acesso concretizado neste sábado, Rogério Ceni não viveu só momentos de alegria no Fortaleza. Ele sofreu com questionamentos e críticas de torcida e conselheiros, que pediram a sua saída após a final do Estadual —perdeu para o rival Ceará.
O técnico ainda não venceu o principal rival na temporada (três derrotas e um empate).
As críticas recebidas eram por conta das constantes mudanças na equipe. Em 18 jogos pelo Cearense, não repetiu a mesma equipe em duas partidas consecutivas. Os torcedores também reclamavam da falta de padrão tático.
Hoje, o Fortaleza tem a sua forma de jogar. A equipe varia do 4-1-4-1 na defesa para o 4-3-3 quando ataca, apostando em jogadores de velocidade pelos lados do campo. O time também procura manter bola para ter o controle do jogo.
“O Rogério é muito bom profissional, muito dedicado, estuda o adversário, estuda o nosso time. Não diminui a intensidade de trabalho. Não importa se está na liderança ou não. Ele acompanha a Série C, a Série B e a Série A e tem um espirito de vencedor”, disse o presidente, afirmando que as 32 contratações feitas pelo clube passaram pelo “crivo do treinador e da diretoria”.
No São Paulo, Rogério Ceni também foi criticado por alterar muito a equipe. Assim como no Fortaleza, apostava em jogadores rápidos para jogar nas pontas.
“O trabalho é o mesmo. Ele montou um time jovem, com jogadores da base. Pelas circunstancias econômicas do São Paulo, o clube negociou alguns jogadores que eram importantes, como o Luiz Araújo e o Thiago Mendes, e isso prejudicou o trabalho do Rogério”, disse o preparador de goleiros Haroldo Lamounier, que treinou Ceni entre 2003 e 2015 no São Paulo.
Na opinião de Paz, Ceni é muito importante para o Fortaleza, assim como o time foi para ele neste recomeço.
“O Fortaleza fez bem para o Ceni também. Ele conheceu outra realidade aqui, com menos dinheiro. Como profissional, está tendo a experiência de concluir o trabalho, o que ele não pôde no São Paulo”, completou o presidente da equipe cearense, que espera agora abrir negociações para renovar o contrato do treinador.