Censo mostra país rural com pouca orientação técnica e baixa alfabetização
A agropecuária brasileira se moderniza, eleva a produtividade e até aumenta as áreas de preservação dentro das propriedades agrícolas. Alguns pontos, no entanto, como o da assistência técnica aos produtores e o da alfabetização, deixam a desejar.
É o que mostram os dados do Censo Agropecuário brasileiro, feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e divulgado nesta quinta-feira (26).
Ainda preliminares, os dados não trazem informações de produção, mas de ocupação de área. Foram incorporados 16 milhões de hectares na atividade agrícola nos últimos 11 anos.
O censo mostra que 4,5 milhões de propriedades, de até cem hectares, somam 72 milhões de hectares. Apenas os 2.400 estabelecimentos com mais de 10 mil hectares cada um atingem uma área de 52 milhões de hectares.
Os números mais recentes de safra de grãos e de proteínas indicam que a evolução brasileira não vem apenas da nova incorporação de área, mas também do aumento de produtividade.
Boa parte dos produtores aderiu a novos métodos de produção e usufrui da utilização de novas tecnologias.
Os dados do IBGE mostram uma preocupação do agricultor com o solo, ponto-chave para uma boa produção. De 2006 a 2017, a adoção do plantio direto na palha subiu 83%, atingindo 33 milhões de hectares.
Nesse mesmo período, as vendas de tratores aumentaram 50%, e as de colheitadeiras, 49%. Com o avanço da safra de grãos, que já supera 230 milhões de toneladas por ano, o número de tratores no campo subiu para 1,23 milhão de unidades e o de colheitadeiras atingiu 173 mil.
O aumento da produtividade e a incorporação de novas tecnologias no campo esbarram, porém, na alfabetização. Apesar de os novos tempos exigirem muito conhecimento do produtor para operar as máquinas modernas, 23,5% deles não sabem ler e escrever.
A agricultura começa a atrair mais jovens para o campo, mas, no ano passado, apenas 5,5% dos agricultores tinham menos de 30 anos. Outros 60,2% estão entre 30 e 60 anos e 34,3% superam essa faixa etária.
A baixa escolaridade dificulta a compreensão de orientação técnica, embora ainda escassa no país. No ano passado, apenas 20% dos estabelecimentos agropecuários eram assistidos por técnicos do setor.
Em alguns estados, como o de Santa Catarina, esse percentual chegava a 52% em 2017. No Ceará, no entanto, era de apenas 6%.
Além da busca de uma modernização produtiva, a agropecuária se adapta também a novas exigências sociais e ambientais do mercado. Nos últimos 11 anos, houve crescimento de 10% nas matas naturais, que são as áreas de preservação ou de reserva legal dentro das propriedades.
O IBGE aponta que apenas em Roraima e em Alagoas houve redução dessas matas. Bahia e Goiás mantiveram a área, enquanto os demais estados elevaram o espaço.
Mato Grosso continua sendo o grande destaque na produção agropecuária do país. O censo indica que a área de lavouras temporárias cresceu 62% nos últimos 11 anos.
O estado se destaca, ainda, na produção de suínos e de aves, que tiveram crescimentos de 82% e 93%, respectivamente.
A complementação do censo, que será daqui a um ano, deverá trazer dados ainda mais interessantes. O país vem de uma aceleração de produção e de preços bastante favoráveis para os produtores.
No censo divulgado nesta quinta-feira, o IBGE registra 5,07 milhões de estabelecimentos agropecuários e 350,3 milhões de hectares. O país tem área total de 851,6 milhões de hectares.