Centenário, alfaiate de Cuiabá mantém ofício que aprendeu adolescente

Vinicius Lemos

CUIABÁ A destreza ao mexer na máquina de costura para consertar ou criar ternos mostra a familiaridade de Antônio Armindo Pedroso com a alfaiataria em Cuiabá. Aos cem anos, ele mantém o ofício que aprendeu aos 12, na escola. Pedroso se recorda do passado de clientes famosos, em que atendia políticos, empresários e outras personalidades mato-grossenses.

Hoje, conta que a profissão não atrai clientes como antes. “As fábricas e as tecelagens levaram o nosso público”, diz. Nos anos 60, ele viveu o ápice da profissão. Na época costumava atender até mil pessoas mensalmente. Para auxiliá-lo, contratava funcionários. O serviço mais comum era a confecção de ternos. “Agora a alfaiataria é uma profissão que está em extinção”.

Pedroso atende, atualmente, cerca de 35 clientes por mês. A maioria dos serviços refere-se a consertos em ternos. “É mais difícil alguém pedir para eu criar um, porque acham mais barato comprar pronto e depois consertar”.

Alfaiate Antônio Armindo Pedroso, 100, com sua máquina de costura em Cuiabá (MT) – Crédito das fotos: Emanoele Daiane/Folhapress

Dos seis filhos, 11 netos e seis bisnetos, somente um filho chegou a seguir o ofício do pai. Pedroso se orgulha das conquistas que teve atrás da máquina de costura. “Construí esta casa, consegui manter toda a minha família e paguei a faculdade de engenharia elétrica de um dos meus filhos, no Rio de Janeiro”.

A alfaiataria funciona no mesmo lugar há 50 anos, em uma garagem anexa à sua residência. O único empecilho que a idade lhe trouxe, conta, é para se locomover — “Meus pés estão fracos”. A dificuldade incomoda Pedroso, que na juventude foi jogador de futebol e chegou a servir ao Exército Brasileiro.

Na alfaiataria, Pedroso guarda quadros da juventude, entre eles um do time de futebol em que jogava

Ele conquistou a aposentadoria aos 61 anos, mas nunca deixou a função como alfaiate. “Não posso parar, pois gosto do meu trabalho”, diz. O serviço é também um complemento para a renda dele, que mora com a esposa, de 89 anos.

Além dos reparos e confecções de ternos, Pedroso aluga o traje masculino e arruma calças. Para auxiliá-lo quando necessário, conta com três amigos, todos aposentados.

E planeja manter a alfaiataria enquanto se sentir disposto. “Eu estou muito bem. Tenho uma saúde de ferro. Quase nunca tomo remédios”.

A alfaiataria funciona no mesmo lugar há 50 anos, na garagem anexa à casa

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