Centrão tenta modular pauta econômica de Ciro
Integrantes do centrão que defendem uma aliança com Ciro Gomes tentam modular o discurso econômico do pré-candidato do PDT para tranquilizar a ala mais conservadora do grupo e convencê-la a apoiar o presidenciável.
Destacado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o economista Cláudio Adilson Gonçalez apresentou críticas a pontos do discurso de Ciro na CNI (Confederação Nacional da Indústria), há duas semanas. Ele se encontrou com o coordenador econômico do PDT, Mauro Benevides, como informou a coluna "Painel".
Os defensores do apoio a Ciro esperam formatar um documento a partir do encontro. Gonçalez é sócio da consultoria econômica MCM, que tem entre seus clientes bancos e grandes empresas. Ele também presta consultoria ao DEM desde os tempos do PFL.
O economista levou a mensagem de que investidores viram com maus olhos declarações de Ciro que poderiam indicar tentativas de controle da taxa de câmbio. A livre flutuação do dólar é um dos pilares do tripé macroeconômico, composto também pelo regime de metas de inflação e pela disciplina fiscal.
Embora não tenha demonstrado contrariedade com o arranjo macroeconômico, Ciro indicou que poderia agir para influenciar o dólar, o que não foi bem recebido no mercado.
Outro tema que não cai bem no discurso do candidato são as críticas à reforma da Previdência, como tratá-la de "irreformável" ou defender a convocação de um plebiscito ou referendo sobre o assunto.
Segundo Benevides, houve convergência em cinco de seis temas discutidos.
Gonçalez também criticou as falas de Ciro sobre o peso do pagamento de juros no orçamento público. Ao dizer que o governo gasta mais da metade da verba com a dívida, o candidato indica que poderia cortar a despesa, o que deixou a banca de cabelo em pé com o risco de calote.
Benevides rejeitou o risco e alegou que a informação consta de documentos oficiais do Tesouro Nacional.
Gonçalez afirmou que o encontro não tinha objetivo de selar aliança política, mas discutir temas econômicos.
Em outra frente, Ciro tenta fechar acordo com partidos de esquerda, como PSB e PC do B, para não ser obrigado a dar uma guinada à direita e abrir mão do que considera fundamental em seu programa, como a revogação de pontos da reforma trabalhista e da lei que cria um teto de gastos, além da taxação das grandes fortunas.
Aliados afirmam que Ciro não cederá nestes pontos, mas poderá flexibilizar alguns deles.