Ciro volta à cidade natal, que também é a de Alckmin, para tentar 'algum votinho'

Há dois dias, a professora Luciane Branco, 53, ficou sabendo que o primo Ciro Gomes, 60, candidato pelo PDT à Presidência passaria por Pindamonhangaba, em São Paulo, para um rápido evento de campanha após participar do debate em Aparecida, a 30 km de distância.

Comprou balões, arrumou a casa que era da avó dos dois —hoje mantida por ela— para receber Ciro e apoiadores. O berço que já foi do presidenciável foi colocado na sala, junto à foto da avó de Ciro, Ismênia. Ao lado, Luciane organizou imagens do candidato e familiares.

Ciro ficou menos de uma hora em Pindamonhangaba, entre uma visita à Basílica de Aparecida e um comício em Brasília. Tomou um café com os familiares na casa e seguiu para a praça central a pé, por um quarteirão, onde um pequeno grupo de apoiadores o esperava.

“Brinquei [na quinta] com o Geraldo Alckmin [PSDB] que estava vindo na cidade dele, ia pregar um elogio aqui a ele para ver se tenho direito a algum votinho também”, disse a jornalistas.

Alckmin e Ciro nasceram na mesma cidade, pelas mãos do mesmo médico, Caio Gomes Figueiredo: o primeiro, em 7 de novembro de 1952, o segundo, em 6 de novembro de 1957.

O tucano venceu na cidade nas últimas eleições para o governo paulista, com 57% dos votos válidos no primeiro turno. Em 2016, no entanto, ele não conseguiu eleger à Prefeitura de Pindamonhangaba nem o candidato de seu partido, Vito Ardito Lerario, nem sua sobrinha Myriam Alckmin (PPS).

O histórico de votação de Ciro, na cidade, no entanto, não é dos melhores. Em 2002, ele decidiu lançar sua candidatura à Presidência em Pindamonhangaba, e terminou em quarto lugar no município. 

Nesta sexta-feira (21), Ciro evitou atacar o tucano na cidade. Disse que a “candidatura do PSDB está enterrada”, mas “não por nenhum defeito de Alckmin”, e afirmou que seria “muito grosseiro” falar em conquistar os votos de quem já tem seu candidato. 

Ele, porém, mandou um recado ao eleitor de Jair Bolsonaro (PSL). “Se você é um eleitor do Bolsonaro que não é fascista, que não acha que a gente tem que discriminar as pessoas, que está só procurando decência e autoridade, vem comigo.”

Ciro disse que não visitava Pindamonhangaba havia seis meses. Alckmin ainda não foi à cidade nenhuma vez para agenda de campanha em 2018. 

“Eu gosto muito deste lugar porque ele me traz recordações importantes. Não é aqui que eu faço política, minha vida política inteira foi feita no Ceará. Mas aqui tem ainda hoje a casa da minha vó, meus primos, então todo ano eu venho aqui”, disse.

A história política da família Gomes, de fato, é toda no Ceará, mas um tio-avô de Ciro, Francisco Romano de Oliveira, foi prefeito duas vezes em Pindamonhangaba.

Ciro não chegou a efetivamente morar na cidade onde nasceu. Seus pais, o cearense José Euclides Gomes e a paulista Maria José, decidiram viver em Adamantina, a 740 km. 

Ciro, contudo, passou boa parte dos seus primeiros cinco anos nas ruas de Pindamonhangaba, visitando os parentes. Depois, a família se mudou para Sobral, mas seguia viajando para a cidade dos avós do candidato.

O pedetista costumava brincar perto da cascata da praça, que ainda ostenta estátuas de pedra de um jacaré, um lagarto e uma cobra. “Eu achava que eles eram de verdade”, disse Ciro à Folha, apontando para os bichos. “E o sapo [outra estátua] eu chamava de Cururu, por causa do Ceará.”

As famílias de Alckmim e Ciro se conhecem, e até hoje os primos do último chamam o tucano de Geraldinho. Lúcia, uma das tias de Ciro, deu aula para Alckmin. Outra tia, Eunice, mãe de Luciane, foi professora de Lu Alckmin, mulher do tucano. 

A própria Luciane diz que lembra com muito carinho de Lu, uma mulher “muito meiga” da qual era cliente assídua —ainda solteira, Lu tinha uma loja de roupas femininas em Pindamonhangaba. 

Quando o tema muda para a política, no entanto, os elogios a Alckmin —“honesto, educado”— dão lugar a críticas. “Sou professora e como político, ele deixou muito a desejar, em todos os sentidos: salários, investimentos, coordenação. Acho que ele se perdeu”, diz Luciane.

A aposta da prima de Ciro é que, na cidade, os votos estão “bem misturados” entre todos os candidatos.

Para Diogo Silva, 49, irmão de Luciane, será mais fácil para Ciro puxar votos de Alckmin do que de Bolsonaro.

“O Alckmin não sobe nas pesquisas, se aliou ao centrão, não consegue emplacar no jogo com toda essa estrutura que ele tem. O PSDB também está há 24 anos no poder. Tenho para mim que o poder desgasta.”

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