Colômbia anuncia que deixa Unasul três dias após posse de novo presidente
O governo colombiano anunciou que está se retirando da Unasul, porque a instituição seria “cúmplice da ditadura venezuelana”, e disse que países como Chile , Argentina e Peru podem seguir o mesmo caminho.
A saída da Colômbia, que havia sido uma promessa de campanha do recém-empossado presidente Iván Duque, é mais um golpe duro contra a organização, que está paralisada, sem recursos e sem secretário geral há 20 meses meses.
O chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, afirmou que o governo “tomou a decisão política” de se retirar da Unasul e que está conversando com outros países. “Estamos em consultas com outros países que, aparentemente, querem seguir o mesmo caminho; se chegarmos a um consenso nessas consultas, faremos isso em conjunto.
Se não, nós vamos nos retirar de qualquer jeito”, disse, em entrevista coletiva em Bogotá. Holmes afirmou que o governo colombiano está conversando com a Argentina, Chile e Peru.
O governo brasileiro, que ficou sabendo da decisão colombiana pela imprensa e ainda não foi informado oficialmente pelo país, não pretende deixar a Unasul no momento. Mas, caso a instituição continue paralisada e outros países sigam o exemplo da Colômbia, o Brasil pode repensar sua decisão, segundo apurou a Folha.
O Brasil acredita que a instituição é necessária para a integração da América do Sul e deve ser reformada, e que a decisão da Colômbia atropela esse processo de reforma.
“É lastimável, estamos vivendo a desintegração da América do Sul, e uma das causas é o desinteresse do Brasil”, disse à Folha o ex-chanceler Celso Amorim, um dos idealizadores da Unasul.
A organização foi criada em 2008 pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor Kirchner (Argentina). O objetivo era aumentar a integração na região e funcionar como órgão regional sem influência dos EUA, um contraponto à Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Ao contrário do que dizem, a Unasul não é uma organização que se identifica com o bolivarianismo; a função pacificadora e conciliadora da Unasul na região é essencial, ela foi muito importante para evitar uma guerra entre Colômbia e Venezuela, e um conflito na Bolívia”, disse Amorim, referindo-se à crise que levou ao rompimento de relações diplomáticas entre Colômbia e Venezuela em 2010, e ao conflito em Pando, na Bolívia, em 2008.
Conforme revelou a Folha, A Unasul está sem secretário-geral, sem chefe de gabinete, tem apenas dois de cinco diretores, conta com menos de 25% do necessário para cobrir seu orçamento e corre o risco de perder sua sede.
Desde o início do ano, a Unasul não fez nenhuma reunião significativa, e os funcionários estão completamente ociosos, passam o dia na internet.
Em abril, Brasil, Argentina, Paraguai, Colômbia, Chile e Peru suspenderam sua participação e seus pagamentos ao bloco, por causa do bloqueio da Venezuela à nomeação do embaixador argentino José Octávio Bordón para o cargo de secretário-geral.
O governo colombiano vinha criticando o silêncio da Unasul em relação às acusações de violações de direitos humanos na Venezuela, e irregularidades nas eleições. A organização era percebida como um braço do bolivarianismo já que, ao contrário da OEA, não condena o governo de Nicolás Maduro.
A retirada da Colômbia da Unasul consolida uma guinada para direita já esperada no governo de Iván Duque, e uma inserção do país em organizações fora da região, que foi iniciada no governo de Juan Manuel Santos.
Em maio, a Colômbia foi aceita na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e, logo depois, anunciou sua entrada na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como “sócio global”, por uma questão geográfica. É o único país latino-americano a integrar a OTAN