Com modelos negros e raiz indígena, João Pimenta levará questão racial à SPFW
Não será a primeira vez que o estilista João Pimenta subirá à passarela de uma São Paulo Fashion Week para apresentar uma coleção sobre as raízes do Brasil. Será a primeira, porém, que aplicará seu vasto repertório imagético sobre as sementes do estilo nacional em uma coleção que cutuca a ferida do racismo em discursos extremistas.
Uma seleção de modelos negras usará criações construídas a partir de uma pesquisa feita por Pimenta na Amazônia. Trinta e seis famílias de uma comunidade de seringueiros trabalharam junto ao estilista para criar a base de látex com algodão usada em peças gráficas.
A cultura indígena, que o designer estudou in loco em seus desenhos e costumes, ganhará corpo em vestidos soltos, alguns bicolores, com uma cartela de cores enxuta no desfile desta segunda (22).
Pimenta afirma ter criado uma “índia urbana”, cujos padrões da roupa remetem aos grafismos tribais e à técnica de patchwork. Tudo é embalado em matéria-prima simples e natural.
“Fui buscar nossa raiz, cavar a nossa brasilidade e a natureza. Se não dermos visibilidade a essas heranças de nossa costura, elas vão desaparecer”, afirma o estilista.
Para ele, “estamos vivendo tempos estranhos, e a moda [nacional] tem o dever de estar ligada de alguma forma a questões sociais” e provar que, num momento de conservadorismo ascendente, “deve mostrar que acordou para os problemas do país”.
Novo consultor criativo do curso de moda do Senac, cargo até pouco tempo exercido pelo estilista Alexandre Herchcovitch, Pimenta também chamou um grupo de alunos para criar peças feitas em moulage, uma técnica de confecção em que a roupa é construída no manequim, e não a partir de um tecido plano cortado em cálculos.
Parte das criações conjuntas serão apresentadas na passarela.