Com popularidade em queda, Putin atenua reforma da Previdência
Pressionado pela queda em sua popularidade, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu amainar um pouco a sua proposta de reforma da Previdência Social.
Em um discurso em rede de TV de 30 minutos, evento raro, ele afirmou que defenderá agora o aumento da idade mínima da aposentadoria das mulheres de 55 para 60 anos. Na versão inicial da reforma, a proposta era elevar para 63 anos.
"No nosso país, há uma atitude gentil especial em relação às mulheres", afirmou Putin. Desde a anexação da Crimeia, em 2014, o presidente registrava aprovação pessoal na casa dos 80%.
Com a proposta de reforma, apresentada em meio à abertura da Copa do Mundo da Rússia em junho, ele caiu para a casa de 65% —muito, mas desconfortável para o padrão local.
A diluição da proposta não chegou aos homens, que segundo o projeto terão de se aposentar com 65 anos, e não os 60 atuais. Isso está no cerne dos protestos contra a reforma, que é rejeitada segundo pesquisas por 90% dos russos: a expectativa de vida masculina no país é de 66 anos, contra a média europeia de 79.
Com isso, tanto a oposição anti-Putin que tem no ativista Alexei Navalni sua voz mais estridente quanto sindicatos se uniram na divulgação da ideia de que o Kremlin quer que as pessoas trabalhem até morrer. Navalni, aliás, está detido.
Assim como no Brasil, essas simplificações contaminam todo o debate. Putin já cedeu totalmente anteriormente, mas seu discurso nesta quarta (29) indica que deverá ir em frente. "Os problemas sérios na demografia", disse, obrigaram a mudança que ele prometeu nunca fazer numa fala em 2005.
Segundo o Serviço Federal de Estatísticas divulgou nesta semana, houve uma queda na população russa neste ano, após um período de recuperação. O motivo estimado é o efeito da recessão que atingiu o país de 2014 a 2016, da qual a Rússia não se recuperou totalmente, com crescimento de talvez 1,5% anual do PIB em 2018.
No primeiro semestre, a população de cerca de 144 milhões de pessoas caiu em 164 mil. No mesmo período do ano passado, foram 119 mil habitantes a menos. Se o ritmo se mantiver mais ou menos estável, na década de 2040 haverá tantos aposentados quanto trabalhadores ativos no país.
A aposentadoria estatal média está na casa dos R$ 800 mensais, e é central para a sobrevivência dos russos, especialmente nas empobrecidas áreas mais periféricas do maior país do mundo. O Ministério das Finanças afirma que o custo das reformas, a serem implementadas gradativamente se aprovadas no Parlamento, será de R$ 30 bilhões nos primeiros seis anos.