Comediante confirma favoritismo e enfrenta presidente na Ucrânia
O comediante Volodimir Zelenski venceu com larga vantagem o primeiro turno das eleições para presidente na Ucrânia no domingo (31), e vai disputar a rodada final com o atual ocupante do cargo, Petro Porochenko, no dia 21 de abril.
Um "outsider" político, Zelenski amealhou, com quase todas as urnas contadas, cerca de 30% dos votos. Porochenko estacionou na casa dos 16%, superando a ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, que ficou com 13%.
O presidente virou para cima da rival na reta final da campanha, em que não economizou em agendas casadas de candidato e autoridade. Nesta segunda (1º), a Organização de Cooperação e Segurança da Europa afirmou ver abuso de Porochenko no uso da máquina, mas na prática isso não deverá mudar nada no resultado final.
Com praticamente o dobro dos votos do incumbente, o comediante confirma o favoritismo que vinha demonstrando depois de começar a campanha apenas em janeiro. O país enfrenta grave crise política e econômica, o que abriu espaço para nomes fora da política tradicional.
Fenômeno antipolítico comparável em certa medida a nomes como Donald Trump e Jair Bolsonaro, embora não comungue do ideário antiglobalista que caracteriza os dois presidentes, Zelenski já começou a ser atacado em seus dois pontos mais frágeis: a inexperiência e a ligação com o segundo homem mais rico da Ucrânia.
Foi o empresário Ihor Kolomoiski que abrigou, em seu canal de TV, o show que deu fama ao comediante. Em 2015, ele lançou "Servo do Povo", uma profética visão do que está acontecendo com ele mesmo: no programa, um professor faz um discurso anticorrupção, viraliza na internet e vira um presidente acidental da Ucrânia.
Zelenski nega ser um títere do bilionário, que mora em Israel e é dono de empresas que vão de energia a aviação. Jornais ligados ao presidente já retomaram a ligação após o primeiro turno.
Já Porochenko atacou a questão da falta de experiência e apoio político estrutural do comediante. Disse que ele é o "sonho de Vladimir Putin: frouxo, suave, inexperiente, fraco, ideologicamente amorfo e politicamente indeciso".
O presidente russo, que só viu o candidato pró-Moscou mais competitivo chegar em quarto lugar na eleição, é fator central da discussão política ucraniana. No caso, como alvo e inevitável tema para discussão, já que ambos os países vivem em um estado quase beligerante desde 2014.
Naquele ano, Moscou anexou a Crimeia e deu suporte a uma rebelião no leste separatista do país após ver o presidente aliado ser derrubado. Porochenko foi eleito logo em seguida e promete, sem muito sucesso, integrar a Ucrânia ao Ocidente.
Já Zelenski é mais dúbio, ainda que se diga pró-ocidental. Aos olhos de alguns analistas, isso o coloca no ponto criticado por Porochenko, o de presa fácil para Putin. Já outros acham que sua total imprevisibilidade e ligação com Kolomiski, um crítico da Rússia, é um problema para o Kremlin.
O comediante não entrou em discussões e apenas comemorou. "Vocês não votaram só por brincadeira", disse ele apoiadores em Kiev. Ele terá trabalho agora para convencer seus apoiadores de que poderá governar até as eleições parlamentares, daqui a seis, em caso de vitória.
Com Reuters