Como a internet atravessa os oceanos
A internet é composta por pedaços minúsculos de código que se deslocam pelo mundo, percorrendo fios tão finos quanto um fio de cabelo estendidos pelo mar. Os dados vão de Nova York a Sydney no tempo que você leva para ler esta palavra.
Quase 1,2 milhão de quilômetros de cabos conectam os continentes para atender à demanda insaciável por comunicação e entretenimento.
As empresas normalmente agrupam seus recursos para colaborar em projetos de cabos submarinos, como uma via expressa compartilhada.
Mas agora o Google está seguindo seu próprio caminho com um projeto para conectar os Estados Unidos ao Chile, onde fica o maior centro de dados da empresa na América Latina.
“As pessoas pensam que os dados estão na nuvem, mas não estão”, disse Jayne Stowell, que dirige a construção dos projetos de cabos submarinos do Google. “Estão no oceano.”
Instalar cabos é demorado e demanda muito trabalho. Um navio de 456 pés chamado Durable vai eventualmente levar os cabos para o mar, mas primeiro, eles são montados em uma fábrica da empresa SubCom em New Hampshire.
Os cabos nascem como um feixe de fios minúsculos de fibra de vidro. Lasers impelem os dados pelos fios quase à velocidade da luz, usando tecnologia de fibra ótica. Depois de chegarem à terra e se conectarem com uma rede, os dados necessários para ler um e-mail ou abrir uma página da web chegam ao aparelho de uma pessoa.
Hoje a maioria das pessoas usa a internet através de Wi-Fi ou planos de dados por telefone, mas esses sistemas se conectam com cabos físicos que carregam a informação rapidamente, atravessando oceanos.
No processo de manufatura, os cabos passam por máquinas de alta velocidade do tamanho de motores a jato que envolvem os fios em um invólucro de cobre que transmite a eletricidade pela linha para manter os dados em movimento. Dependendo de onde o cabo será instalado, plástico, aço e alcatrão são acrescentados para ajudá-los a resistir à imprevisibilidade do oceano. Quando prontos, eles têm a espessura de uma mangueira grossa de jardim.
É preciso um ano de planejamento para mapear uma rota de cabos livre de riscos submarinos. Eles ainda terão que resistir a correntes fortes, deslizamentos de rochas, terremotos e a ação de arrastões de pesca. A expectativa é que cada cabo dure até 25 anos.
O primeiro cabo transatlântico foi completado em 1858, ligando os EUA à Grã-Bretanha. A rainha Vitória comemorou a ocasião com uma mensagem ao presidente James Buchanan que levou 16 horas para ser transmitida.
Novas tecnologias sem fio e por satélite foram inventadas desde então, mas cabos ainda são a maneira mais rápida, mais eficiente e menos cara de transmitir informações. Mesmo assim, estão longe de serem baratos. O Google não revelou o custo de seu projeto, mas especialistas disseram que projetos submarinos custam até US$350 milhões.
Na era moderna, a maior parte dos cabos foi instalada por empresas de telecomunicações, mas nos últimos dez anos as gigantes americanas da tecnologia começaram a assumir mais controle.
O Google já colocou pelo menos 14 cabos em todo o mundo. Amazon, Facebook e Microsoft investiram em outros, conectando centros de dados na América do Norte, América do Sul, Ásia, Europa e África, segundo a firma TeleGeography.
Países encaram os cabos submarinos como infraestrutura crucial, e os projetos têm sido pontos de disputas geopolíticas. No ano passado, a Austrália interveio para impedir a gigante tecnológica chinesa Huawei de construir um cabo conectando a Austrália às Ilhas Salomão, temendo que isso proporcionaria ao governo chinês uma porta de entrada em suas redes.
A demanda por cabos submarinos só deve aumentar à medida que mais empresas utilizam os serviços de computação na nuvem. E a tecnologia prevista para o futuro próximo, como inteligência artificial mais poderosa e carros sem motorista, também vai exigir dados transmitidos em velocidade altíssima.
Tradução de Clara Allain