Como fez Temer há dois anos, Bolsonaro nomeia mulheres após críticas

Publicada no dia 12 de maio de 2016, quando o presidente Michel Temer (MDB) assumiu após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), reportagem da Folha mostrava que o emedebista poderia ser o primeiro presidente desde Ernesto Geisel (1974-1979) a não incluir mulheres na Esplanada.

Quatro dias  depois, em meio a críticas, Temer definiu o nome da procuradora Flávia Piovesan para o comando da Secretaria de Direitos Humanos. Atualmente, a cerca de um mês e meio do fim do governo, Temer tem apenas uma mulher como ministra, Grace Mendonça, da Advocacia Geral da União (AGU).

O ano é 2018 e o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que substituirá Temer a partir de 1º de janeiro de 2019, trouxe novamente à discussão a pouca representatividade feminina no primeiro escalão.

Quando anunciou a primeira lista com os nomes de sua equipe de transição, em 5 de novembro, Bolsonaro elencou 28 pessoas —todos homens.

Em meio a críticas e com um histórico de declarações vistas como machistas —como ter dito que "não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário"—, Bolsonaro recuou da lista exclusivamente masculina.

Menos de 24 horas depois, em suas redes sociais, Bolsonaro anunciou: "Fazem parte da nossa equipe de transição: a doutora em Economia Clarissa Costalonga e Gandour; a engenheira ambiental Liane de Moura Fernandes; a tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Márcia Amarílio; e a tenente do Exército Sílvia Nobre Waiãpi".

Também pela internet, Bolsonaro afirmou não estar preocupado com a cor, sexo ou sexualidade de quem está na sua equipe, "mas com a missão de fazer o Brasil crescer, combater o crime organizado e a corrupção, dentre outras urgências".

Com perfil acadêmico, Gandour, a primeira listada por Bolsonaro, é analista sênior do CPI (Climate Policy Initiative), um "think ​tank", onde coordena projetos ligados à conservação da Amazônia; também é pesquisadora do Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio, segundo informações disponíveis no seu currículo Lattes e na sua biografia disponível no site da instituição.

Doutoranda em economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Gandour também é mestre em economia e tem passagem pela Universidade da Califórnia.

Já as outras três, Fernandes, Amarílio e Waiãpi, são ou foram ligadas a instituições militares. Dos 28 homens quem fazem parte da equipe de transição, quatro são militares.

Fernandes é engenheira ambiental formada pela Universidade Federal do Tocantins, com especialidade em construções sustentáveis na Universidade Cidade de São Paulo, segundo seu perfil em uma rede social. No Exército, atuou até março de 2018 no DEC (Departamento de Engenharia e Construção).

Segundo a BBC Brasil, Fernandes atua, em Brasília, em ações voluntárias de coleta e reciclagem de resíduos.

Amarílio, segundo informou a equipe de Bolsonaro, é especialista em segurança pública e já integra o grupo da transição responsável pelo assunto. Ela é tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, onde atua há mais de duas décadas.

O quarto nome anunciado por Bolsonaro é o da índia Waiãpi. Nascida no Amapá, já foi moradora de rua, vendedora de livros, atriz, atleta e fisioterapeuta antes de se tornar a primeira índia militar.

Desde 2016, a tenente é chefe do serviço de medicina física e reabilitação do Hospital Central do Exército, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. Periodicamente, ela retorna à sua aldeia na Amazônia.

A lista de sete ministros já definidos é ocupada, pelo menos por ora, por uma única mulher, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), que vai assumir o Ministério da Agricultura.

Além disso, Bolsonaro e Temer têm semelhanças com o que reservaram para suas mulheres no governo. Assim como Marcela Temer, Michelle Bolsonaro promete desenvolver ações sociais no posto de primeira-dama.

No governo, o principal projeto de Marcela foi o programa social Criança Feliz, no qual ela atuou como como embaixadora e de maneira voluntária, sem receber remuneração.

Em entrevista após a eleição do marido, Michelle, que é religiosa, já disse querer trabalhar em vários projetos sociais.

Um dos principais envolve a inclusividade de surdos. Quando vai aos cultos da sua igreja evangélica, Michelle fica sempre na ala de surdos e às vezes faz a tradução para Libras, a língua brasileira de sinais, que aprendeu com um tio deficiente auditivo.

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