Comércio bilateral com Argentina não deve perder força, dizem dirigentes
Representantes das indústria e da agricultura argentina dizem que o Brasil não pode prescindir do país vizinho e que não esperam dificuldades no comércio bilateral —mesmo se o Mercosul não for uma prioridade do governo.
Paulo Guedes, que deverá ser o ministro da economia, já declarou que o bloco econômico é restritivo.
As relações comerciais não deverão ser afetadas, diz Dante Sica, ministro da Produção da Argentina. “A integração entre os dois países já é muito forte.”
Agora, segundo ele, é o momento de aguardar a confirmação dos nomes do governo brasileiro. A pasta que ele comanda é equivalente ao Mdic (ministério da Indústria) do Brasil, que pode ser extinto.
“Isso não deve trazer maiores preocupações, teremos reuniões bilaterais com as pessoas indicadas”, afirma Sica.
Mais do que o total das exportações brasileiras para lá, é importante a natureza dos produtos que eles compram, segundo Diego Coatz, diretor-executivo da UIA (União Industrial Argentina).
A Argentina é a terceira maior importadora de bens brasileiros, mas os dois primeiros, EUA e China, compram itens primários, como soja e minério de ferro, e o país vizinho adquire veículos, diz Coatz.
Parte da pauta dos produtos que importamos é de alimentos que o Brasil não produz, afirma Pablo Gabarró, gerente geral da Molinos Los Grobo, empresa de alimentos com atuação em farinhas.
“O Brasil não é autossuficiente e depende do trigo argentino. Há mais chances de a Argentina colocar empecilhos para exportar.”
Compasso de espera
Uma aproximação do Brasil com a Aliança do Pacífico, bloco formado por Chile, Colômbia, Peru e México, é vista com otimismo moderado por executivos chilenos e peruanos.
A fala de Paulo Guedes de que o Mercosul “não será prioridade” e o anúncio de que a primeira viagem de Bolsonaro será ao Chile são tidos como indícios de mudança.
“É cedo para dizer qual efeito essa visita terá. O importante é aprovar o acordo de livre comércio já negociado”, afirma o diretor da Câmara de Comércio Brasil-Chile, Augusto Archer.
O interesse de investidores do país andino pelo Brasil é limitado: “A carga tributária e a burocracia para fazer negócios são entraves”.
“A integração com o Peru é relevante para a zona franca de Manaus, que teria acesso facilitado à Ásia, mas é necessário investimento em infraestrutura”, diz Miguel Vega, da câmara peruana.
Nova boleia
A transportadora Expresso Nepomuceno, de Minas Gerais, vai investir ao menos R$ 50 milhões na renovação de sua frota de caminhões e carretas em 2019.
“O crescimento deste ano será de cerca de 20% acima do previsto inicialmente. Temos tido bons resultados nas áreas florestal, automotiva e sucroalcooleira, setores que estão mais aquecidos”, diz o sócio Agnaldo Souza Filho.
“Com a alta, precisamos contratar mais e vamos adquirir ao menos 150 equipamentos, entre veículos e implementos [como carretas e reboques]”, afirma.
A empresa estima que 2019 seja um ano mais aquecido para os setores varejista e químico, segmentos em que a transportadora é especializada, de acordo com o executivo.
R$ 820 milhões
é a previsão de receita bruta para este ano
1.500
é a frota atual de caminhões
4.500
são os funcionários
Pé no freio
O consumo de energia do segmento automotivo e de autopeças no mercado livre (em que grandes clientes escolhem seus fornecedores) desacelerou em setembro, segundo comercializadoras.
O indicador é tido como um termômetro da produção.
Durante a maior parte do ano, houve altas no patamar dos dois dígitos, mas no mês retrasado, foi de 0,68%, segundo a Comerc, e de 2,7% na Ecom, na comparação com o mesmo período de 2017.
“É uma indústria bem volátil e o consumo do setor age em cadeia, o que explica oscilações mais bruscas”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc.
“A incerteza política com relação à eleição e a expectativa quanto ao futuro da política econômica provavelmente influenciaram essa queda”, afirma Paulo Toledo, sócio da Ecom.
Os segmentos químico e de embalagens, por outro lado, se mantêm aquecidos devido à projeção de alta em vendas de Natal, enquanto o varejo tem tido menor consumo devido ao clima ameno, segundo Vlavianos.
Cautela australiana
A rede australiana de vestuário Cotton On vai trazer duas novas marcas para o Brasil até o fim deste ano: uma infantil e uma feminina voltada para atividade física, segundo o diretor-geral da companhia no país, Pierre Schrappe.
Ambas serão vendidas em sua próxima loja, que será inaugurada em Campinas (SP). Será a nona operação no país, todas elas em São Paulo.
A varejista passou por um período de adaptação e retenção de clientes nos últimos anos por causa da recessão econômica e agora está preparada para retomar as inaugurações, afirma Schrappe.
Não está nos planos, porém, crescer de forma acelerada.
“Temos buscado oportunidades, mas vamos ser seletivos. Todos os nossos produtos são importados, então quando estivermos mais confiantes no cenário macroeconômico, vamos acelerar os planos de expansão.”
19
são os países em que atua
1.437
são as lojas em operação
Por que... Cerca de 30% dos executivos de alta gestão das montadoras dizem trabalhar 12 horas ou mais por dia, segundo a Automotive Business, que ouviu 605 pessoas do setor.
...será? Sobrecarga de trabalho e falta de tempo são os problemas que eles dizem ser os mais incômodos, mas pressão para reduzir custos também é citado com frequência.
Startup A Roundlaw, plataforma de busca por advogados, vai investir R$ 10 milhões para chegar a outras capitais no Brasil. A empresa atua em São Paulo, Rio e Brasília.
com Felipe Gutierrez (interino), Igor Utsumi e Ivan Martínez-Vargas