Corinthians x Santos não teve gols, mas foi o duelo tático do ano
Dos 31 gols do Santos, melhor ataque do Brasil neste ano, 13 nasceram pelo lado direito e 11 pelo meio. A clareza de que a direita é o ponto forte da equipe de Sampaoli fez Fábio Carille subir a marcação para tirar a chance de a bola sair limpa da defesa. Não chegar nem a Victor Ferraz nem a Carlos Sánchez, os homens que atacam naquele setor.
Clayson, Sornoza e Danilo Avelar faziam o triângulo de marcação, mas depois do meio de campo, o que tirou a chance de os santistas criarem suas melhores jogadas.
Sampaoli tirou Alison do meio dos zagueiros e adiantou-o para a cabeça de área para ter mais posse de bola no meio de campo, mas não equilibrou o duelo.
Nada disso resolveu. Só no intervalo o técnico argentino tomou a decisão mais ousada. Trocou Alison por Cueva e Jean Lucas por Rodrygo.
Na primeira etapa, o Corinthians chutou oito vezes, o dobro do Santos, mesmo com 38% do tempo de bola no pé. Menos da metade dessa porcentagem no campo ofensivo.
O equilíbrio apareceu na segunda etapa, não pela troca de passes santistas, mas pela mudança de eixo da equipe de Sampaoli.
Jean Mota recuou para jogar num tripé de meio de campo, com Pituca de primeiro volante e Cueva na meia direita.
O Corinthians seguiu marcando por pressão. Com as linhas todas na intermediária ofensiva e Jean Mota capaz de lançamentos precisos, o jogo começou a chegar a Derlis González, escalado como ponta esquerda, às costas de Fágner. Aos dez minutos, essa jogada resultou em finalização de Jean Mota e grande defesa de Cássio.
Aos 15, a flecha do lado esquerdo foi Rodrygo, em vez de Derlis. Ou seja, além de mudar o eixo do jogo, para driblar a marcação corintiana, o Santos também tinha inversões de posições para abrir espaços.
Os triângulos de marcação do Corinthians seguiam superiores aos ofensivos do Santos na direita. Mas o espaço para contra-golpear virou arma letal e utilizada por Sampaoli.
No meio da segunda etapa, o treinador argentino ainda mexeu mais no seu quebra-cabeças. Primeiro adiantou Cueva como centroavante e recuou Carlos Sánchez para o meio. Depois, trocou Sánchez por Matheus Ribeiro. Apesar de lateral, Ribeiro entrou no setor de criação.
A palavra chave do jogo santista é polivalência. Não conte o número de volantes pela posição que você foi apresentado a Alison, Diego Pituca, Jean Lucas ou Carlos Sánchez. Observe a função deles no gramado. Elas mudam de acordo com o adversário e com as circunstâncias dos jogos.
Carille também usou bons antídotos. A alteração de Pedrinho por Vágner Love deu mais profundidade. O atacante quase fez um gol e ofereceu outro a Boselli.
O Corinthians terminou o terceiro clássico com menos posse de bola do que o adversário. Segue sem perder para seus três maiores rivais. Finalizou mais e esteve mais perto de vencer pelo primeiro tempo.
O Santos fez três clássicos e não marcou em dois. Mas Sampaoli mostrou mais uma vez sua versatilidade tática e capacidade para modificar a estratégia.
Corinthians x Santos não foi o melhor jogo do Paulista —este pode ter sido o empate por 4 x 4 entre São Caetano e Bragantino— mas foi o melhor duelo tático do ano.
REI DOS CRUZAMENTOS
O Corinthians fez 17 gols no ano, sendo 11 de jogadas aéreas (64%). Mais impressionante ainda é descobrir que o Santos é o time que mais cruza no Paulista. Dos 31 gols do ano, também fez 11 pelo alto. A diferença é a porcentagem (35% do total). Quando não impõe seu jogo, o Santos se impõe pelo volume.
O RISCO DO SÃO PAULO
Hernanes salvou o São Paulo da derrota contra a Ferroviária, mas a situação segue complicada. Porque enfrenta Palmeiras na próxima rodada e São Caetano na última. Mais preocupação gera o rendimento, que não evolui. De positivo, a afirmação de Antony, 19 como referência de velocidade para contra-ataques.