Cortizo vence candidato de direita e é eleito presidente do Panamá
O social-democrata Laurentino Cortizo venceu a eleição presidencial de domingo (5) no Panamá, com uma vantagem de dois pontos sobre o candidato de direita Rómulo Roux, que era apoiado pelo ex-presidente Ricardo Martinelli, atualmente na prisão.
Cortizo colocou como principal objetivo resgatar a imagem do país, contaminada pelo escândalo dos Panama Papers e presente em várias listas de paraísos fiscais.
"Dos 125 compromissos que temos no plano de ação, o primeiro fala sobre resgatar o nome do Panamá", disse Cortizo horas antes de vencer as eleições.
Após a vitória, ele endureceu seu discurso e disse que iria "defender" e "respeitar" os interesses do país.
Aos 66 anos, este empresário e fazendeiro, conhecido como "Nito", venceu as eleições com apenas 40 mil votos sobre o direitista Rómulo Roux, apoiado da prisão pelo ex-presidente Ricardo Martinelli.
Seus seguidores destacam sua humildade e sensibilidade social, enquanto seus críticos o culpam por estar cercado por deputados acusados de escândalos de corrupção.
Com mais de 95% das urnas apuradas, Cortizo obteve 33% dos votos, seguido de Roux, com 31%. Ambos são opositores do atual presidente, Juan Carlos Varela, que termina seu mandato atingido pelo declínio econômico e escândalos de corrupção e que não disputou a eleição porque a Constituição do Panamá não permite reeleição imediata.
Fator Martinelli
Roux, que foi apoiado pelo ex-presidente Martinelli, do qual foi chanceler, havia dito horas antes que não reconheceria nenhum resultado de forma imediata.
"Nós, hoje (domingo), não vamos aceitar nenhum resultado", disse Roux antes do anúncio do órgão eleitoral. Temos "informações sobre irregularidades", acrescentou ele.
No entanto, o próprio Martinelli parabenizou Cortizo ao amanhecer. "Quero parabenizar Nito e o (Partido da Revolução Democrática) PRD por sua vitória não oficial. Eles têm uma grande responsabilidade de unir os panamenhos e nos tirar do buraco para onde nos levou Varela", tuitou Martinelli.
Em terceiro lugar ficou o candidato independente Ricardo Lombana, com 19,7% dos votos.
Cortizo era o favorito das pesquisas sobre Roux, a quem Martinelli, que está sendo julgado a acusação de espionar opositores durante seu mandato (2009-2014) —expressou apoio da prisão.
O bom desempenho de Roux demonstra que Martinelli "continua sendo um fator inegável na política do Panamá, esteja livre ou privado de liberdade", disse à AFP Claire Nevache, vice-presidente do Centro de Iniciativas Democráticas (ICW).
Sete candidatos aspiravam à Presidência, embora as pesquisas sempre dessem preferência a Cortizo, Roux e, mais recentemente, a Lombana.
Advogado e jornalista de 45 anos, Lombana ganhou destaque nos últimos meses de campanha com seu discurso furioso contra a corrupção e os partidos tradicionais. Ele aceitou a derrota mais cedo e anunciou sua intenção de colaborar com o vencedor.
Sua ascensão coincidiu com o descontentamento público com os escândalos no Legislativo envolvendo deputados de todos os partidos, e com a falta de resposta da Justiça aos chamados Panama Papers, escândalo do pagamento de propinas da construtora brasileira Odebrecht e outros casos de corrupção local.
Os partidos tradicionais PRD, de Cortizo, e Mudança Democrática, de Roux, com suas máquinas, conseguiram, porém, arrematar a maioria dos votos.
De cavalo e canoa
De origem espanhola e grega, Cortizo estudou Comércio Internacional nos Estados Unidos, onde trabalhou na Organização dos Estados Americanos (OEA) e conheceu sua esposa Yazmín Colón, que o chama de "gringuito". Com ela, teve dois filhos.
Depois de solicitar a votação a cavalo e em cayuco (uma canoa rudimentar), esse torcedor do Real Madrid e do Boston Celtics foi eleito deputado pela província caribenha de Colon em 1994. Em um segundo mandato, ele passou a presidir a Assembleia Nacional entre 2000 e 2001.
Cortizo foi nomeado à sua mais alta posição política em 2004, quando o então presidente Martín Torrijos lhe pediu que assumisse o cargo de ministro do Desenvolvimento Agrícola. Ele ficou 15 meses à frente do ministério.
Ele renunciou ao ministério por considerar que o Panamá não deveria aceitar a flexibilização de normas sanitárias que, na sua opinião, seria imposta por um tratado de livre-comércio com os Estados Unidos, embora agora afirme que este acordo deve ser "respeitado".
Ao mesmo tempo, ele aproveitou a oportunidade para afirmar que Washington é o "principal parceiro" do Panamá, embora também fosse a favor de "fortalecer" as relações do país com a China.
Cortizo também prometeu criar o Ministério da Cultura e o Ministério da Mulher, elevar questões agrícolas a política do Estado e punir empresas acusadas de corrupção.