Crefisa é cartada da Globo em negociações com Palmeiras pelo PPV
O Grupo Globo avalia ter um trunfo nas negociações com o Palmeiras pelos direitos de transmissão do Brasileiro de 2019 a 2022 em TV aberta e pay-per-view: a Crefisa.
A empresa, que patrocina o clube desde 2015 e no ano passado teve sua presidente, Leila Pereira, eleita conselheira da agremiação, é uma das cinco principais anunciantes da TV Globo.
Apesar de não ser patrocinadora do futebol da emissora, a financeira compra espaço na programação.
Ela adquire cotas em horários nobres e anuncia com frequência nos programas mais importantes da TV Globo, como, por exemplo, no do Jornal Nacional, quando cada comercial de 30 segundos custa R$ 825,5 mil.
A Crefisa também será uma das patrocinadoras da cobertura do Carnaval da Globo e pagou cerca de R$ 20 milhões pelo pacote. A empresa chega a colocar mais de 50 comerciais de 30 segundos em um mesmo mês em exibição na emissora, e mais de 200 inserções.
Segundo apurou a Folha, a Crefisa não vê com bons olhos a possibilidade de os jogos do Palmeiras no Campeonato Brasileiro ficarem fora da grade de programação da emissora.
Até agora, o clube não aceitou a proposta da Globo pelos direitos de exibição das partidas em TV aberta e em pay-per-view.
A patrocinadora do Palmeiras se incomoda, por exemplo, de o clube que patrocina ter tido até agora menos jogos do Paulista transmitidos na TV aberta do que Corinthians e São Paulo. Os direitos do Estadual são vendidos pela Federação Paulista de Futebol e a Globo pode exibir as partidas da equipe alviverde.
A emissora nega que o número menor de jogos palmeirenses do Paulista seja uma retaliação à falta de um acordo pela venda dos direitos do Nacional.
As marcas da Crefisa estampam o peito, costas e ombros da camisa alviverde —também com a Faculdade das Américas (FAM), pertencente ao grupo— e passariam a ter menos exposição sem a transmissão dos jogos do Palmeiras no Brasileiro na emissora.
A Globo informou à Folha ter “ótimas relações comerciais com a Crefisa, exclusivamente focadas nos contratos de conteúdos da TV”. Disse que essas relações não influenciam a negociação pelos direitos do Brasileiro.
“A Globo preza pela independência de seus projetos e de suas relações comerciais e reafirma que não há qualquer participação dos patrocinadores do Futebol 2019 nas negociações relacionadas aos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2019 a 2022.”
Athletico-PR e Palmeiras são os únicos clubes que ainda não fecharam com a Globo para TV aberta e pay-per-view. A emissora já trabalha com a possibilidade de iniciar o Brasileiro sem ter acordo com os dois clubes e seguir negociando com eles já com o torneio —que começa em 28 de abril— em andamento.
A emissora avalia que a situação atual, de vender o pay-per-view sem a totalidade das equipes, é uma grande derrota. Acredita, porém, que, com a competição em disputa, Palmeiras e Athletico-PR poderiam aceitar a proposta da emissora para não abrir mão de receita.
Com todas as outras equipes com contratos assinados com a Globo para TV aberta e pay-per-view, os dois clubes só poderiam entregar duas partidas do torneio para uma outra emissora que tentasse adquirir esse direito de transmissão que a Globo está tentando comprar. Seriam os confrontos entre ambos no primeiro e no segundo turno.
O Palmeiras e outras seis equipes da Série A do Brasileiro assinaram com a Turner na TV fechada. O clube recebeu luvas maiores que os demais. Foram cerca de R$ 100 milhões fixos pelos jogos que serão exibidos nos canais Space e TNT (que são da Turner). Além disso, os clubes terão direito a dividir mais R$ 13,7 milhões dependendo da classificação no Brasileiro e número de jogos transmitidos.
O Palmeiras não colocou receitas com a venda dos direitos para a Globo em seu orçamento para 2019, já que vive ótimo momento financeiro, graças também à presença da Crefisa, que paga cerca de R$ 80 milhões por ano para o clube.
A dona da empresa, Leila Pereira, já admitiu que pode concorrer à presidência do clube na próxima eleição, a ser realizada em 2021.
A ausência de acordo com o Palmeiras, atual campeão brasileiro, atinge um produto que movimentou R$ 1,4 bilhão em 2018: o pay-per-view. A indefinição preocupa as operadoras de TV por assinatura, que lucram com a venda da transmissão para seus assinantes.
Isso porque o principal atrativo dos pacotes de pay-per-view negociados é a possibilidade de o torcedor ver todos os jogos do campeonato em casa.
Sem o acerto, 74 das 380 partidas do torneio (19,5%) não poderão ser exibidas —segundo a Lei Pelé, uma partida só pode ser transmitida com a anuência dos dois times participantes—, o que poderia impactar na receita dessas empresas.
O Palmeiras não aceita a aplicação de redutores nos contratos de TV aberta e pay-per-view proposto pela Globo. A emissora alega que isso deve acontecer porque o clube acertou acordo em com a Turner na TV fechada.
O Palmeiras questiona também a fórmula usada para dividir os lucros do pay-per-view, baseada em uma pesquisa com os assinantes do serviço. Para o Corinthians, a Globo pagou R$ 160 milhões de adiantamento por todos os direitos.
Crefisa e Palmeiras não quiseram se manifestar.
Veja o que a Folha já publicou sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro