Cuca defende técnicos veteranos e se vê 'nem verde nem passado'
Cuca, 55, afirma que voltou ao Santos convicto, pela experiência que hoje carrega como treinador. Com títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro na bagagem, o técnico diz que não repetiria decisões como a de dez anos atrás, quando aceitou assumir o clube santista apenas quatro dias após deixar o Botafogo. A passagem frustrada foi interrompida em menos de três meses.
“Eu chamava os jogadores de Diguinho, Lúcio Flavio, Túlio, Juninho [atletas do Botafogo]”, diz em entrevista à Folha.
Ele ainda não se considera um veterano. Mesmo assim, defende os mais antigos da profissão em meio ao surgimento de treinadores mais jovens em grandes equipes da Série A, como Mauricio Barbieri, 36, no Flamengo.
“Falar que um treinador é ultrapassado? Acho pesado. Se for olhar para os trabalhos do Felipão, 69, e do Vanderlei [Luxemburgo], 66, por exemplo, vão ter os mesmos resultados dos jovens que buscam espaço”, afirma.
O Cuca que volta ao Santos tem ainda mais certezas. A principal delas é a de que colocará fim à má fase da equipe, sem vencer há oito jogos e na zona de rebaixamento.
“Podem ter uma certeza: o Santos não cai”.Ele foi contratado no último dia 30 e comandou o time em duas partidas: derrota para o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, e empate com o Botafogo, no Campeonato Brasileiro.
A equipe volta a campo às 19h30 desta quarta (8), em jogo antecipado da 20ª rodada, contra o Ceará, fora de casa.
A sua segunda passagem pelo Santos começa com a decisão de morar no CT do clube, assim como fez no Atlético-MG. Por quê?
Foi assim que vivi no Atlético-MG, e pretendo que seja no Santos, para que possamos sair dessa condição ruim na tabela. Precisamos de uma arrancada para recuperar a confiança. Esse esforço é para que possamos terminar o ano bem, quem sabe até com uma conquista.
Você já consegue falar, então, que o Santos não cai?
Podem ter uma certeza: o Santos não cai. Vamos ainda tentar dar um “up”, conseguir uma posição mais acima. Não sabemos aonde podemos chegar.
De onde vem essa certeza? Do elenco? Da experiência de voltar ao clube dez anos depois?
Quando vim pela primeira vez para o Santos [em 2008] eu aprendi muito. Não viria mais naquela condição. Perdi uma semifinal [de Copa do Brasil] para o Corinthians, no Morumbi, e no outro dia estava aqui, após dois anos no Botafogo. Eu chamava os jogadores de Diguinho, Lúcio Flavio, Túlio, Juninho [nomes de jogadores do Botafogo na época]. Não dei um tempo. [Desta vez] Saí do Palmeiras e dei uma reciclada boa em mim mesmo. Estou inteirão para trabalhar.
E o que já conseguiu compreender do atual momento do Santos? Por que a fase é tão ruim?
Nessa primeira semana estou tentando entender ao máximo os jogadores, quem eles são. Você vê pela televisão, mas não conhece o dia a dia. Então, não adianta tirar informações com outros sobre eles. Quero julgar por mim, ver os que não atuaram e saber o que podem me dar, para daqui a um tempo ter a condição de colocar o time que acho ideal.
Você foi o responsável pela guinada na carreira do Gabriel Jesus no Palmeiras. E agora, já sabe o que fará com o Gabriel do Santos?
A minha meta aqui não é chegar e ouvir: “foi o Cuca que colocou o Gabriel no banco”. A meta que tenho é de fazer o Gabriel jogar o que já jogou. Lógico que se não conseguir é um outro departamento, mas é um jogador que foi selecionável ontem. Como que hoje desaprendeu? Acho que o primeiro passo com o Gabriel é entendermos o posicionamento dele, e ele também.
Há uma tendência de clubes da Série A apostarem em técnicos da nova geração, em contraste com a luta pela permanência dos mais veteranos. Onde você se coloca?
Acho que fico no meio, não sou veterano e não sou mais um aspirante. Sou uma uva nem verde nem passada.
E por que acha que os mais velhos estão com fama de ultrapassados?
Os mais novos, muitas vezes, também não dão certo. Todo caminho é longo e árduo. Ele tem ensinamentos de tropeços, derrotas, tem negativas. Se não, seria muito fácil ser treinador. Falar que um treinador é ultrapassado? Acho pesado. Se for olhar para os trabalhos do Felipão e do Vanderlei [Luxemburgo], por exemplo, vão ter os mesmos resultados dos jovens que buscam espaço. Hoje tudo é informatizado, feito com equipes. Ninguém faz nada sozinho. Quem faz isso acaba ficando para trás. Às vezes é bom ter um pouco do passado na raiz da gente, ajuda muito.
O que acha dos novos técnicos que estão na primeira divisão?
Um perfil comum de muitos é não ter sido jogador de futebol. Não precisa ter sido jogador para ser treinador. Tem diversos bons treinadores que não jogaram. Eu só penso que ajuda você ter uma lembrança de dentro de campo em determinadas situações. Eu penso como reagiria a uma situação. Nesse aspecto ajuda a compreender melhor um pouco o jogador.
Como viu a última Copa? Acha que surgiram novidades?
Acho que ninguém viu novidades. No futebol não vai acontecer um “uau, olha que diferença”. O que faz a diferença no campo é a qualidade técnica do jogador. Foi falado muito da Bélgica porque fez a diferença tecnicamente com os jogadores.
Qual a sua posição sobre a saída precoce de jogadores? O jogador tende a sofrer na Europa?
Você vai ter Rodrygo por pouco tempo. É a nova realidade do futebol, porque os clubes, quando olham jogadores como Vinicius Jr. [ex-Flamengo] e Rodrygo, começam uma corrida frenética para serem os primeiros na compra. Foi assim até com o Gabriel Jesus, mas acho uma pena o jogador sair tão precocemente do país porque dificilmente eles vão ter uma chance de já jogar no Real [Madrid]. É raro que cheguem e já sejam titulares. Vão acabar emprestados para outros clubes. Eles poderiam ter uma história firme com o clube para depois saírem, mas, infelizmente, isso não ocorre.
O Santos passa por dificuldades financeiras. Você pediu reforços para a diretoria?
Temos que esperar alguns jogadores para vermos. Não adianta chegar no lugar, trazer três ou quatro, e depois descobrir que tinha no elenco melhores opções.
Acha que amadureceu muito, também? Você teve a fama de não ter sido bem compreendido.
Você tem que respeitar o DNA de cada equipe, isso o tempo nos ensina. Eu, aquela vez aqui no Santos, não sabia que jogavam com a zaga com um camisa 2 e um 6. Queriam me pegar porque coloquei os números para os laterais, mas eu não sabia, não foi maldade.
Alex Stival (Cuca), 55
Campeão da Libertadores (2013) e do Mineiro (2012-2013) pelo Atlético-MG e Brasileiro pelo Palmeiras (2016), o treinador também teve passagens por Flamengo, equipe pela qual venceu o Estadual do Rio (2009), Cruzeiro, onde ganhou o Mineiro (2011), Botafogo, Fluminense, Goiás, Grêmio, Coritiba, São Caetano, São Paulo, Shandong Luneng (CHI), Santos, entre outras.