Debate político da campanha será tão fajuto quanto suas alianças
No fim do ano passado, Ciro Gomes (PDT) deu ênfase às palavras para dizer que não seria incoerente em suas alianças. “Não confraternizo com golpista”, declarou. Sete meses depois, jantou com Rodrigo Maia (DEM) e caciques de PP, Solidariedade e PRB —personagens centrais do impeachment.
A atitude camaleônica dos presidenciáveis é a prova de que os vícios do jogo político são, na verdade, regras oficiais. Com naturalidade, os principais concorrentes mostraram sua disposição em encarar a lógica das conveniências eleitorais.
Ciro afirmava que as coalizões presidencialistas eram arranjos com “expectativa de roubalheira”. Em tom quase lamurioso, agora diz que precisa “aceitar este balé”.
Não foi por outro motivo que Jair Bolsonaro (PSL) flertou com Valdemar Costa Neto. Quando estava prestes a assinar com o PR, esbravejava contra aqueles que o questionavam: “Vocês querem que eu fique sem televisão, é isso?”.
Bolsonaro perdeu Valdemar, mas atacou com gosto o acerto do centrão com Geraldo Alckmin (PSDB). Em sua convenção, agradeceu ao tucano por ter “juntado a nata do que há de pior no Brasil a seu lado”.
Alckmin embarcou na desfaçatez ao criticar o passado de Bolsonaro no PP: “O grande mentor dele era o Paulo Maluf”. Fingiu que o deputado preso nunca teve cargos em seu governo. Na campanha, Alckmin certamente tentará vender o rompimento de meia-tigela do PSDB (o mesmo de Aécio Neves) com Michel Temer após o escândalo da JBS.
Abatido pelo impeachment, o PT adoraria posar de vítima dos mandachuvas da política. Bastaria omitir que a sigla entrou na fila de Valdemar nesta eleição —sem falar na sociedade de seis anos com o MDB.
O debate sobre as negociatas partidárias será tão fajuto quanto os acordos que os nortearam. Alianças e o futuro governo se sustentarão sobre plataformas furadas. Viciados no jogo como ele é, todos prometerão uma reforma política que, se depender deles, jamais virá.