Demanda de montadoras por pneu sobe, mas setor prevê desaceleração

O fornecimento de pneus para montadoras impulsionou o setor no primeiro semestre deste ano, mas as perspectivas são negativas, segundo a Anip (associação que representa a indústria nacional).

Foram comercializadas 28,8 milhões de unidades nos seis primeiros meses de 2018, uma alta de 2,3% em relação ao mesmo período de 2017.

O aumento, porém, não foi homogêneo: enquanto a venda de itens para fabricantes de veículos subiu 28,3%, o mercado de reposição caiu 4,6%.

A demanda de montadoras tem crescido com o maior número de companhias optando por utilizar uma frota própria, decisão ainda mais comum após a paralisação de caminhoneiros, diz Klaus Curt Müller, presidente da entidade.

“A venda para reposição [que representa mais de 60% dos negócios] tem permanecido praticamente igual, e o incremento das importações [de produtos mais baratos] nos preocupa”, afirma Müller.

A tendência é que a alta do volume comercializado para montadoras desacelere e que, se o mercado nacional não ganhar representatividade, haja uma retração. 

“Deveremos encerrar este ano com uma produção próxima a 4 milhões de pneus no setor de reposição, nível similar ao de 2017”, diz Rodrigo Alonso, gerente sênior da Dunlop.

“Na venda para montadoras, deverá haver uma melhora não só por um crescimento [da demanda] como por novos projetos.” Além de linhas da Volkswagen e Fiat, a empresa passou a atender a Toyota neste ano.

 

Alento externo

A paralisação dos caminhoneiros, que levou à interrupção da produção de algumas fábricas, e o crescimento do país abaixo do previsto fizeram a Michelin projetar um resultado local pessimista. 

A tendência é que o setor de reposição siga estagnado até o fim deste ano e que o fornecimento para montadoras perca um pouco de força, afirma Nour Bouhassoun, presidente da companhia na América do Sul.

A empresa tem priorizado mais exportações para compensar o mercado interno.

A fábrica de Manaus da Levorin, que faz pneumáticos para motos e bicicletas e foi adquirida pelo grupo em 2016, receberá R$ 100 milhões para abastecer o mercado externo com pneus da marca Michelin.

“Todo ano investimos mais de R$ 60 milhões em tecnologia e novos produtos. Os único planos que estão em pausa são os aumentos de capacidade produtiva, que requerem mais previsibilidade.”

8 mil
são os funcionários no país

 

Queda de pedidos faz empréstimos do BNDES à indústria da construção cair 

Os repasses do BNDES à indústria de construção tiveram queda de 27% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017, segundo dados da Fiesp.

Isso é reflexo da diminuição de apetite das empresas por crédito a partir do início da crise, em 2015, diz Fernando Garcia, do departamento da construção da Fiesp.

“Entre o pedido do empréstimo e a liberação, há a análise, a aprovação e a obra em si. É um intervalo grande, os tempos de execução são de no mínimo quatro anos. A queda atual reflete a diminuição de demanda do passado.”

Outras mudanças, como a introdução da TLP (taxa de longo prazo), mais próxima do mercado que a antiga TJLP (taxa de juros a longo prazo) foram menos impactantes para a redução dos repasses, segundo Garcia.

“A expectativa do setor é que as empresas voltem a construir e, quando isso acontecer, esperamos que o BNDES acompanhe o ritmo: avalie os pedidos de forma transparente, mas também ágil e rápida.”

Essa indústria deverá retomar projetos em 2020, diz ele.

 

Em recuperação

Os pedidos de recuperação judicial subiram 15% no acumulado deste ano até julho, segundo a Boa Vista SCPC. As requisições de falência caíram 19,5% no mesmo período.

“O dado de recuperações é ruim. As empresas que entram nesse regime não podem ter sua falência solicitada por credores. Pode ser lido como uma piora da economia”, diz Antonio Giglio, sócio do escritório Demarest.

“Temos tido uma queda constante nos requerimentos de insolvência porque esse tipo de processo não é bem visto nem por credores nem pelos empresários, devido à sua lentidão”, afirma Cássio Cavalli, sócio do Veirano.

“As recuperações são cada vez mais usadas em processos de aquisições. As companhias com problemas de capital fazem o pedido na Justiça e, com um ambiente mais estável, viabilizam uma injeção de capital com a entrada de acionistas”, diz.

 

Proximidade

A diferença na taxa de vacância de condomínios logísticos dentro do mesmo estado pode variar mais de 40 pontos percentuais, segundo a plataforma de informações imobiliárias Siila.

Enquanto a região de Cajamar, que concentra o maior estoque em São Paulo, tem 12,9% dos espaços vagos, em Sorocaba o índice é de 55,3%.

“O grande eixo das indústrias está a até 60 km da capital. Acima disso já há problemas de custo [alto] e de demanda [baixa]”, diz Giancarlo Nicastro, CEO da Siila.

 

Julho ruim Os pedidos de falência e de recuperação também subiram na comparação mensal, 4,8% e 2,1% respectivamente.

 

com Felipe Gutierrez, Igor Utsumi e Ivan Martínez-Vargas

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