Demitir equipe do Samu que ajudou a resgatar cachorro não faz sentido
O caso chamou a atenção pelo inusitado: motorista, enfermeiro e médico de uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Taubaté (interior paulista) foram demitidos por justa causa depois de tirar um cachorro perdido do meio da rua e levar para a base das ambulâncias.
Num primeiro momento, a entidade que gerencia o serviço na cidade justificou a decisão dizendo que a conduta contraria regras do Ministério da Saúde para o uso das UTIs móveis, sobretudo pelo risco de contaminação.
A polêmica tomou as redes sociais. E a gestora voltou atrás em 24 horas.
Desalmados foi o mínimo que disseram sobre os responsáveis pelo Samu de Taubaté nas redes sociais. Podem até ser, mas eu queria trazer à tona um outro lado dessa discussão.
A portaria 2.048, de 2002, que fixa regras para o atendimento médico de urgência e emergência e foi citada pela prefeitura como sendo o conjunto de regras desrespeitado pelo transporte do animal na ambulância, começa assim: “Considerando a crescente demanda por serviços nessa área, devido ao aumento do número de acidentes...”.
É esse o ponto.
Animais de rua são um problema de saúde pública: transmitem zoonoses e, correndo entre os carros, provocam acidentes.
Foram três motoristas, com os carros já parados, que pediram ajuda à equipe do Samu. O que eles deveriam fazer? Seria razoável que vissem o animal na pista e ali ficassem, a observar o caos, até que alguém finalmente batesse o carro tentando desviar do cão e, então, eles pudessem entrar em ação?
Façam-me o favor!
Tenho um amigo que diz que o mundo anda chato. E põe chato nisso!
Os caras do Samu fizeram o mínimo: tiraram o animal do meio da avenida, evitaram um acidente e ainda devolveram o cão à família, com a qual o pequeno york vive há 15 anos (nem vou entrar no mérito do quão impagável é o que eles fizeram por essas pessoas).
Não, ninguém está pregando que as equipes do Samu saiam por aí recolhendo cachorro de rua. Não é isso. Mas não faz sentido demitir funcionários porque eles ajudaram a resolver um problema a pedido da comunidade, como acabou reconhecendo o gestor do Samu.
Se você não dá valor ao fato de eles terem salvo a vida do animal, considere que o gesto economizou dinheiro público, evitando mais um politraumatizado na fila do SUS.
Em tempo: o cão tinha plaquinha de identificação, com o telefone do responsável, e voltou para casa 15 minutos depois do resgate. Isso é posse responsável.