Desastre na Etiópia matou funcionários da ONU que trabalhavam em regiões problemáticas
Dois dias antes de Joanna Toole, consultora de administração pesqueira da ONU, embarcar num voo da Ethiopian Airlines de Adis Abeba, Etiópia, para Nairóbi, Quênia, ela tuitou que estava contente por fazer parte do contingente crescente de mulheres que trabalham para a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
“É ótimo fazer parte do número crescente de mulheres” que trabalham com questões pesqueiras, ela escreveu, acrescentando uma hashtag relativa ao Dia Internacional da Mulher.
No domingo (10), Toole, que vivia no sudoeste da Inglaterra, fez parte do grupo de pelo menos 22 pessoas que trabalhavam para agências filiadas à ONU e que morreram quando o avião com destino ao Quênia caiu depois de decolar.
A queda matou todas as 157 pessoas a bordo e suscitou dúvidas quanto à segurança do modelo da aeronave, um Boeing 737 Max8.
O voo tinha o apelido de “ponte aérea da ONU” devido à frequência com que era usado por funcionários das Nações Unidas.
A queda do avião também chamou a atenção para o trabalho da ONU em algumas das regiões mais conturbadas do mundo, desde o Sudão do Sul até a Coreia do Norte.
A ONU disse que seus funcionários que estavam no avião haviam trabalhado em vários de seus programas, em organizações filiadas a ela e nos escritórios da ONU no Quênia e na Somália.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ofereceu suas “condolências sentidas” aos familiares e entes queridos dos funcionários da ONU mortos no desastre.
Em e-mail a funcionários, ele disse que as bandeiras nos escritórios da ONU seriam hasteadas a meio-pau na segunda-feira em homenagem às vítimas.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que sete de seus funcionários morreram no desastre, o maior número de vítimas de qualquer organização da ONU.
O PMA concentra seu trabalho no combate à fome generalizada provocada por guerras ou instabilidade na Nigéria, Sudão do Sul e Iêmen, entre outros países.
“Enquanto choramos os mortos, reflitamos que cada um desses nossos colegas do PMA se dispôs a trabalhar longe de sua casa e seus entes queridos para fazer do mundo um lugar melhor para se viver”, disse o diretor do programa, David Beasley, em comunicado à imprensa.
“Essa era a vocação deles, como é do restante da família do PMA.
”As vítimas do PMA incluem a nepalesa Ekta Adhikari, que trabalhou para o programa na Etiópia; o irlandês Michael Ryan, que ajudou refugiados rohingyas em Bangladesh a se prepararem para as monções sazonais, e a chinesa Zhen-Zhen Huang, que trabalhou em Pyongyang, a capital norte-coreana.
“Não posso imaginar a dor de seus entes queridos, especialmente seu filho”, escreveu no Twitter uma das colegas de Huang, Faizza Tanggol.
Outras vítimas do acidente aéreo tinham viajado para participar de eventos da ONU. Uma delas foi Sebastiano Tusa, arqueólogo subaquático italiano que estava indo ao Quênia para participar de uma conferência da Unesco sobre a proteção do legado cultural subaquático da África oriental.
Ainda outras, como Joanna Toole, estava a caminho da Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, um encontro que terá lugar no Quênia esta semana para discutir questões como desenvolvimento sustentável e desafios ambientais relacionados à pobreza, aos recursos naturais e à gestão de dejetos.
Outra pessoa que participaria desse encontro era Victor Tsang, especialista em gênero, natural de Hong Kong, que trabalhava para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em Nairóbi.
Segundo sua biografia no site do Programa para o Meio Ambiente, Tsang trabalhou no Chade, Etiópia, Panamá e Sudão do Sul.
Uma conta no Twitter que parece ser de Tsang diz que ele trabalhava profissionalmente com o desenvolvimento sustentável, mas que sua paixão era acampar com seu filho de dois anos no jardim de sua casa.
Seu penúltimo post no Twitter parece mostrá-lo dançando com colegas no Dia dos Namorados (12 de fevereiro) para festejar o desenvolvimento sustentável.
“Victor era tão dedicado e era um colega muito querido”, escreveu no Twitter uma de suas colegas em Nairóbi, Oona Tully.
Toole, a especialista inglesa em administração pesqueira, estava viajando para participar da Assembleia do Meio Ambiente como representante do Departamento de Pesca e Aquacultura da FAO, escreveu no Twitter o diretor do departamento, Manuel Barange.
Ela tinha 36 anos e vivia em Exmouth, no sudoeste da Inglaterra. O “Exmouth Journal” informou que ela cursou uma faculdade pública local e estudou comportamento animal.
“Todos tinham muito orgulho dela e do trabalho que ela fazia. Ainda estamos em choque”, disse o pai dela, Adrian Toole, ao site noticioso local Devon Live.
“Joanna era realmente uma dessas pessoas sobre as quais nunca se ouviu uma crítica.”
Tradução de Clara Allain