Desfile no Rio de Janeiro | Para encerrar o 1º dia
A Unidos da Tijuca, que na última década foi tricampeã do Grupo Especial, encerrouo primeiro dia do Carnaval do Rio de Janeiro falando sobre pão.
Com o samba-enredo "Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome", a escola usa o alimento mais popular do planeta como o fio condutor da trajetória da humanidade.
A Tijuca, que ficou em sétimo lugar no Carnaval do ano passado, passa a mensagem do amor ao próximo e coloca o dedo na ferida sobre a situação atual do Brasil, em que muitas pessoas não têm o que comer e não conseguem colocar o pão nosso de cada dia na mesa da família.
A queda de recursos financeiros atingiu diretamente a escola, mas os carnavalescos Laíla, Annik Salmon, Hélcio Paim, Marcus Paulo e Fran Sérgio usam da criatividade para tentar surpreender o público.
A agremiação vem com uma novidade: um grupo de componentes faz teatralizações antes de cada carro alegórico conforme parte do enredo. Entre as coreografias planejadas por Jan Oliveira estão a encenação da peregrinação de Cristo e um ato imponente com 80 pessoas.
Rainha atrasada
Elaine Azevedo fez sua estreia como rainha de bateria da Tijuca, mas não começou com o pé direito. A modelo se atrasou e a bateria da escola entrou sem ela para fazer o esquenta. Segundo sua assessoria, Elaine teve problema para colocar a asa da fantasia e entrou na avenida só no primeiro recuo. A diretoria da escola estava bastante revoltada. Uma diretora que não quis se identificar disse que Elaine já não era bem vista na escola. "Ela estava no camarote com o noivo. Ela já não era bem vista na escola, pois tinha dado declarações criticando Viviane Araújo. Agora depois dessa a situação dela ficou ainda pior. É revoltante essa postura", disse.
Chovendo pão
Representando uma passagem bíblica do livro "Êxodo", a comissão de frente fez chover pão na avenida. Na coreografia, Deus surgiu em uma plataforma alta e distribuiu pão para os hebreus. A ideia era contar a origem do alimento, segundo a passagem religiosa. Outro momento retirado da bíblia foi a Santa Ceia, em que Jesus aparece ao lado de seus apóstolos dividindo pão.
Aula de história
Desde o Egito Antigo, o pão é um dos principais alimentos e serviu democraticamente tanto para servos quanto para a elite. O pão já foi salário e até moeda de troca. Os comerciantes fenícios levaram o alimento para a Europa e apenas na Grécia Antiga mais de 70 receitas com pão foram catalogadas. Já a política do "pão e circo", do Império Romano, também foi lembrada, com belas construções mostrando o contraste das classes sociais. Situação parecida foi durante a revolução francesa, em que os mais pobres passavam fome -- e não tinham brioche. A Tijuca contou a história com competência e foi interessante ver na avenida como Laíla, AnnikSalmon, Hélcio Paim, Marcus Paulo e Fran Sérgio desenvolveram o tema principal.
Brasil
Os portugueses trouxeram ao Brasil o pão de trigo. Os índios faziam o mesmo alimento com mandioca. A política do "pau, pão e pano" foi citada também, quando os escravos recebiam o alimento em quantidade mínima para sobrevivência. O gigantesco carro "O Pão que o Diabo Amassou" trouxe um navio negreiro para o desfile, lembrando do quanto os escravos sofreram, com coreografias violentas sobre o que acontecia dentro dos porões das embarcações.
Cores
Como desfilou de manhã, com os primeiros raios de sol no Rio de Janeiro aparecendo na avenida, a Tijuca foi inteligente em usar fantasias com tons pasteis, não apostando tanto nos brilhos. Os ritmistas foram fantasiadas de padeiros e deu o tom para o restante do desfile. Outros trajes conseguiram explorar a riqueza da história do pão, e a construção dos adereços pode render pontos a mais para a escola.
CONFIRA A LETRA DO SAMBA-ENREDO
"Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome"
Hoje a Tijuca pede em oração
Veste a fantasia pra fazer o bem
Multiplica o sagrado pão
Amém (amém)
Meu filho
Como é lindo o amanhecer
Reflete o sol, a criação
Um bom dia a renascer
Pelos olhos do pavão
Sou a fé na vida
Esperança da massa
Aquele que na dor te abraça
Sou eu, a verdade pra quem pede luz
Carregando a sua cruz
O alimento em comunhão
Princípio da salvação
Ouço chamar meu nome
Ouço um clamor de prece
Choro ao te ver com fome
Sou o cordeiro que a alma fortalece
Só existe um caminho (por favor)
Cada um faz seu destino (meu senhor)
As migalhas do poder que o diabo amassou
Estão dentro de você
As mãos unidas vem pedindo o perdão
Gente sofrida com a paz no coração
Dividem o pouco que tem pra comer
Ó meu pai o seu amor é a receita
Iluminai, que não me falte o pão na mesa
Derrame igualdade, prosperidade
As bênçãos do céu
Se Deus é por nós, escute a voz
Que vem do meu Borel