Deslizes de Paulo Guedes fragilizam blindagem na campanha de Bolsonaro
Paulo Guedes abriu uma pequena fenda na blindagem que ele mesmo havia aplicado na candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). O economista foi responsável por afastar temores sobre o programa do candidato, mas criou um flanco para ataques de rivais ao gerar dúvidas sobre seus planos de cobrança de impostos e tributos --área sensível numa campanha presidencial.
De garoto-propaganda exibido com orgulho, Guedes foi colocado na geladeira. A pedido de Bolsonaro, cancelou participações em eventos com investidores para proteger a candidatura do presidenciável de polêmicas até a eleição.
A origem do curto-circuito foi a declaração do economista, em reunião reservada, de que pretendia substituir uma série de tributos por uma contribuição sobre movimentações financeiras, semelhante à extinta e impopular CPMF.
A divulgação da proposta obrigou Bolsonaro a desautorizar publicamente qualquer ideia de criação de novos tributos. Voando em céu de brigadeiro, a candidatura do líder nas pesquisas foi levada à defensiva e precisou se explicar repetidamente.
"Isso é uma distorção. Ele apenas está estudando alternativas. Tudo terá de passar pelo meu crivo", disse Bolsonaro em entrevista à Folha nesta sexta-feira (21). O candidato garantiu que Guedes continua na campanha e creditou o problema à falta de "experiência política" do economista, além de deturpações feitas pela imprensa.
Ao impor uma lei do silêncio a Guedes, a campanha de Bolsonaro perde a oportunidade de esclarecer qual é seu plano e até de discutir publicamente mudanças que poderiam conter eventuais injustiças --como martelam agora seus competidores.
Abafar a polêmica é uma alternativa perigosa, já que esconde planos que Bolsonaro pode ser obrigado a implantar se vencer a eleição. Como se explicará aos eleitores se, de fato, uma nova contribuição nos moldes da CPMF for criada em seu governo?
Quem gostou da polêmica foram seus rivais, que passaram a explorar a sigla infame da CPMF para atacar Bolsonaro. Em pouco mais de 24 horas, Geraldo Alckmin (PSDB) levou à TV um ataque pesado, em que dizia que "pobre vai pagar mais imposto" se o adversário for eleito.
Mal explicado, o plano fica exposto a novos golpes. Em 2014, Marina Silva (hoje na Rede) foi bombardeada ao propor a autonomia do Banco Central. A ideia era complexa, mas Dilma Rousseff (PT) exibiu uma propaganda que dizia que o projeto tiraria comida da mesa dos trabalhadores. Marina despencou nas pesquisas.