Dinâmico e eloquente, Miss Brasil evolui, mas ainda deixa a desejar na emoção
São Paulo
Para quem assistiu na noite deste sábado (9) a 65ª edição do Miss Brasil, perceber que houve uma evolução no show da final e mais critério na escolha da vencedora não foi uma dificuldade.
O espetáculo do mais tradicional concurso de beleza do país, que elege a representante brasileira no Miss Universo, foi dinâmico, interativo e ágil. E o entretenimento não foi amargado nem mesmo pelas características "demodè" da competição, inerentes ao formato e quase impossíveis de eliminar.
Essa notável mudança, suportada também por mensagens de empoderamento feminino como "lute como uma miss", deixou de lado porém um ponto importante para a ocasião: a empatia com o público. "Acredito que seja preciso resgatar o que há de mais importante nos concursos de beleza, que é o fator emoção", analisa João Ricardo Camilo Dias, curador do blog Miss Brazil On Board, especializado em concursos de beleza.
A Polishop, rede de varejo que fechou parceria com a franquia para promover sua linha de beleza "Be Emotion", se esforçou para adequar o evento a um padrão mais moderno e fashion. "Conseguimos melhorar a imagem do concurso, que voltou a ter o glamour de antes", explica João Appolinário, dono da Polishop.
Esse é o quinto ano da empresa à frente da disputa que, desde então, adotou a alcunha de "Miss Brasil Be Emotion". Appolinário revelou à Folha que foram investidos no concurso R$ 35 milhões no período.
O show começou ao ritmo da bateria da escola de samba paulistana Acadêmicos do Tucuruvi, seguido da apresentação das jovens ao som de “Aquarela do Brasil”. Além disso, as quatro últimas vencedoras da disputa se juntaram ao ator Cássio Reis para apresentar a final.
A sempre desengonçada dancinha de abertura, o júri figurativo e posicionamentos robóticos no palco foram deixados em segundo plano por desfiles autênticos e perguntas bem formuladas e atuais, seguidas de respostas de moças, numa primeira impressão, engajadas e comunicativas.
Tanto é que sagrou-se vencedora da noite a jornalista e influenciadora digital mineira Júlia Horta, 24. Natural de Juiz de Fora (MG), a bela é veterana em concursos e não fez piruetas no palco nem lançou mão de maquiagem exagerada ou vestidos bufantes para vencer. Firme, segura e desembaraçada, a miss conquistou o júri e o público com força no posicionamento vocal e discurso politizado e social.
"Realmente, o Brasil agora está em uma situação um pouco desafiadora, com muitas coisas para mudar, Mas esse cenário fez com que a gente perceba o quanto é importante que a gente se una, se apoie, vote direito e participe ativamente da transformação do nosso país", pontuou ao vivo sobre como descreveria o atual cenário do país, caso participasse do Miss Universo.
A pergunta foi proposta pela Miss Brasil 2007, a também mineira Natália Guimarães, que fez história ao sagrar-se vice Miss Universo no seu ano —a vitória ficou com a japonesa Ryo Mori. A final contou ainda com os inconfundíveis desfiles em traje fashion, biquíni e os vestidos de moda noite.
Miss engajada e influencer
Após ser coroada pela amazonense Mayra Dias, 27, e já rodeada de fotógrafos, patrocinadores, fãs e imprensa, Horta atribuiu a vitória a seu equilíbrio emocional, cuja falta é considerada uma das maiores mazelas da sociedade moderna. "Meu diferencial foi que eu fui eu mesma. E inteligência emocional, sem dúvida. Se tem uma coisa que eu posso falar para qualquer pessoa é invista em autoconhecimento, pois isso transforma", disse.
"Acredito que ser uma influenciadora digital me ajudou, pois meu propósito é realmente usar esse título para ajudar as pessoas e levar uma mensagem de sororidade, de amor e empatia. Então, acredito que como o título não era só pra mim, mas para muitas pessoas, eu consegui realizar".
Muito religiosa, também citou Deus. "Confesso que, desde o momento em que decidi começar no Estadual, já tinha colocado nas mãos de Deus. E eu confio Nele mais que tudo".
Com a vitória, Horta leva para Minas a nona vitória no certame, e quebra um jejum de oito anos —a última vitória de uma conterrânea foi em 2010, com Débora Lyra. Assim, fica em segundo lugar no quadro de medalhas do Miss Brasil, apenas atrás do Rio Grande do Sul, que levou até agora treze coroas para casa. Ambos seguidos de perto por Rio de Janeiro e São Paulo, ambos com oito títulos.
Um grupo de 27 candidatas se apresentou na 65ª edição da competição, transmitida ao vivo na TV pela Band, direto da convenção da Polishop no São Paulo Expo, na zona sul da capital paulista.