Discurso em visita a Marinha no RJ | Fala de Bolsonaro desagrada ala militar; Mourão tenta conter crise

A fala do presidente Jair Bolsonaro trazendo as Forças Armadas para seu lado no contexto da crise do tuíte do Carnaval desagradou a ala militar do governo, que buscou desta vez colocar panos quentes em público à situação com o comentário do vice-presidente, general Hamilton Mourão.

Na realidade, com a manifestação, os militares buscam tratar o assunto "interna corporis", ou seja, dentro da instituição governo. Se serão bem-sucedidos, isso é algo a ver. A depender da evolução do caso, pode ser uma inflexão na relação entre o capitão reformado eleito presidente e os generais dos quais se cercou uma vez no poder.

 

Segundo a Folha apurou, a cúpula militar no governo e a da ativa por óbvio concorda com a frase de Bolsonaro segundo a qual não há liberdade e democracia sem as Forças Armadas. Rejeitaram a construção "se a respectiva Força Armada assim o quer", pela insinuação de tutela —justamente a crítica feita à esquerda ao discurso.

​Um general do Alto Comando comentou o caso lembrando o discurso de despedida do presidente Barack Obama às forças americanas, no qual ele preza justamente esse papel garantidor.

Mas o problema maior, para os militares, está no primeiro período da fala, no qual o presidente disse que "a missão será cumprida ao lado" dos que "amam a pátria", "respeitam a família", "querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa" e "amam a democracia".

Um almirante afirmou que empacotar tudo isso no mesmo discurso deu a entender que as Forças Armadas estão prontas para combater o dissenso, aqueles que Bolsonaro considera adversários em suas postagens no Twitter e Facebook, notoriamente controladas pelo filho Carlos e assessores.

Nas palavras de um outro militar muito próximo pessoalmente do presidente, ele foi "extremamente infeliz" na colocação, e isso levou à intervenção do general Mourão.

Desde a campanha eleitoral os militares do entorno de Bolsonaro se batem com o estilo do presidente, que consideram impulsivo demais, e a influência do círculo familiar —notadamente o vereador carioca Carlos, o deputado federal Eduardo e o senador Flávio.

Embora a ala militar englobe diversas facções, algumas divergentes, há uma certa convergência na figura do vice Mourão, por ter sido eleito com os mesmos votos da chapa de Bolsonaro. Indemissível, pode passar recados da cúpula e os seus próprios com mais liberdade.

Mourão já fez pública a intervenção reservada dos militares contra o voluntarismo do Itamaraty chefiado por Ernesto Araújo, protegido de Eduardo e indicado pelo ideólogo Olavo de Carvalho. Demoveu a ideia da mudança da embaixada brasileira em Israel e assumiu negociações sobre a crise na Venezuela, afastando especulações de ação militar. Por fim, o vice troca farpas públicas com Olavo sempre que pode.

Internamente, Bolsonaro ouve nomes como o dos também generais da reserva Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo). Eles, Mourão e o general da reserva Floriano Peixoto (Secretaria-Geral) são o núcleo militar dentro do Planalto.

O grupo é reforçado pelo general da ativa Otávio do Rêgo Barros, porta-voz da Presidência que deu forma à nota na qual Bolsonaro mantinha a censura aos atos obscenos em públicos divulgados pelo mandatário no Twitter, mas afirmava que a postagem não implicava crítica ao Carnaval em si.

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