Disputa de filhos com Mourão é também por influência nos EUA

O ataque inicial do terceiro filho do presidente, Carlos Bolsonaro (acima), ao vice-presidente foi também ao Brazil Institute, organização ligada ao Wilson Center, de Washington, porque este descreveu assim a conversa com o general Hamilton Mourão nos convites que enviou para o evento, realizado no dia 9:

"Os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro foram marcados por paralisia política, em grande parte devido às crises sucessivas geradas pelo próprio círculo interno do presidente, se não por si próprio. Em meio ao barulho político, o vice-presidente Mourão emergiu como uma voz de razão e moderação."

Ele "assumiu a Venezuela e é cada vez mais procurado por China, Europa e Oriente Médio". O questionamento do instituto foi ao círculo interno, aos filhos, inclusive o segundo, Eduardo Bolsonaro, influente no Itamaraty e presidente da Comissão de Relações Exteriores —e que também saiu contra o vice, nesta quarta, no Estado.

BRAZIL INSTITUTE VS. AMERICAS SOCIETY

A disputa vem de longe, outubro de 2017, e tem por palco os centros de influência da política externa a partir dos EUA. Bolsonaro e seu círculo procuraram na época o Brazil Institute e tiveram acesso negado. Outra organização do gênero, a Americas Society/Council of the Americas, abriu as suas portas.

O diretor do instituto, Paulo Sotero, questionou então a AS/COA e lembrou a saudação de Bolsonaro ao "comandante da unidade onde centenas de presos políticos foram torturados e 50 morreram". Sua "turnê" tentava agora "normalizá-lo como adepto da economia liberal", denunciou, em artigo no Financial Times (imagem acima).

A AS/COA não só recebeu Bolsonaro como em seguida o entrevistou e dedicou uma primeira capa de sua publicação trimestral ao então pré-candidato. Nesta semana, dedicou uma segunda, em que o apresenta como principal resistência à presença chinesa na América Latina --alinhado ao interesse dos EUA:

'ESTUPRADORES E ASSASSINOS', NÃO

Os principais textos são dos dois vice-presidentes da AS/COA, Brian Winter e Eric Farnsworth. O primeiro, que edita a publicação, escreve que "há uma necessidade clara por mudança" na relação com a China, até mesmo uma "reação" (backlash) de líderes "preocupados", como Bolsonaro.

O segundo avisa que "a bandeira chinesa vai continuar sua marcha expansiva no hemisfério até que nós", os EUA, "escolhamos o caminho claro". A saber, "ver a região como oportunidade, não ameaça", e "mudar a abordagem retórica, de 'estupradores e assassinos' para 'vizinhos e amigos'".

Um terceiro texto, assinado por Margaret Myers, diretora de China e América Latina em outro centro de influência sobre política externa de Washington, o Inter-American Dialogue, afirma que "o interesse da China na região esfriou", supostamente.

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