Dono de tabloide quer investigar acusação de Bezos, mas diz que agiu conforme lei
A A.M.I, dona do tabloide National Enquirer, divulgou nesta sexta-feira (8) um comunicado em que defendeu que sejam investigadas as acusações do presidente da Amazon, Jeff Bezos, de que teria sido chantageado pela empresa, mas disse que agiu “legalmente” ao noticiar o relacionamento extraconjugal do bilionário com Lauren Sanchez.
Na quinta-feira (7), Bezos, 55, publicou um post no site Medium em que afirmou ter sido vítima de chantagem e tentativa de extorsão pela A.M.I., em ameaças que envolveriam a publicação de fotos íntimas enviadas por ele a Sanchez, 49, ex-apresentadora de TV.
O objetivo da dona da National Enquirer seria deter a investigação que o bilionário estava fazendo para descobrir como a empresa obteve mensagens privadas trocadas pelo casal.
No início do mês, Bezos, dono do The Washington Post, comunicou que estava se separando de sua ex-mulher, Mackenzie, com quem ficou casado por 25 anos. No mesmo dia do anúncio, o National Enquirer noticiou sobre o relacionamento de Sanchez e do bilionário, com fotos dos dois juntos e mensagens trocadas por ambos.
Segundo Bezos, a A.M.I. queria que ele e seu chefe de segurança, Gavin de Becker, negassem publicamente que a cobertura que o National Enquirer fez de seu divórcio tivesse qualquer motivação política. David Pecker, presidente da A.M.I., é amigo do presidente Donald Trump, que já atacou em várias ocasiões Bezos, a Amazon e o Post. O bilionário se recusou a acatar o pedido da empresa.
Nesta sexta, a A.M.I. divulgou um comunicado em que afirmou estar investigando as alegações do bilionário. “A American Media acredita fervorosamente que agiu legalmente ao reportar a história do sr. Bezos”, indicou o comunicado do conselho de administração, encabeçado por Pecker.
A empresa diz que negociava “de boa fé” para resolver todas as questões com Bezos quando ele decidiu publicar a mensagem no Medium.
“No entanto, à luz da natureza das alegações publicadas pelo sr. Bezos, o conselho se reuniu e determinou que as declarações deveriam ser investigadas total e prontamente”, disse o comunicado, que ressaltou ainda que o conselho tomaria as ações apropriadas ao fim da investigação.
No post, o bilionário disse que, nas mensagens da A.M.I que ele estava tornando públicas, era possível encontrar “detalhes precisos da proposta de extorsão: eles vão publicar as fotos pessoais a menos que Gavin de Becker [chefe de segurança de Bezos] e eu façamos declarações públicas falsas à imprensa de que ‘não temos conhecimento ou base para sugerir que a cobertura da A.M.I foi motivada politicamente ou influenciada por fatores políticos’.”
“Claro, eu não quero fotos pessoais publicadas, mas eu também não vou participar de sua prática bem conhecida de chantagem, favores políticos, ataques políticos e corrupção", continuou o bilionário.
O dono da Amazon divulgou ainda e-mails enviados por representantes de Pecker. Em uma das mensagens, um dos editores do National Enquirer, Dylan Howard, parece sugerir que o tabloide publicaria fotos reveladoras do dono da Amazon e de Sanchez.
Na mensagem, Howard diz que para "agilizar a situação, e com The Washington Post pronto para publicar rumores infundados sobre a reportagem inicial do The National Enquirer, eu queria descrever as fotos obtidas durante nossa coleta de informações”. Para Bezos, "nenhum editor teria prazer em enviar esse email. Eu espero que o senso comum possa prevalecer –e rapidamente.”
Depois do post, outras pessoas vieram a público para relatar situações semelhantes. O vencedor do Pulitzer Ronan Farrow disse que ele e ao menos outro jornalista proeminente receberam ameaças de chantagem parecidas da A.M.I. por causa de suas reportagens.
Farrow noticiou sobre a tática da empresa de pagar fontes para obter informações, em método que teria beneficiado Trump na campanha eleitoral de 2016.
Em dezembro, a AMI fechou um acordo com a procuradoria federal americana em uma investigação envolvendo o pagamento a duas mulheres que diziam ter tido um caso com o presidente Donald Trump, em episódio investigado por supostamente violar regras de financiamento de campanha eleitoral no país.
A AMI admitiu que o pagamento de US$ 150 mil à ex-modelo da Playboy Karen McDougal, em agosto de 2016, foi feito em coordenação com a campanha de Trump e tinha intenção de evitar acusações ao candidato. McDougal afirma ter tido um caso com Trump em 2006 e contou a história ao National Enquirer, que, embora tenha pagado a ela o valor combinado, não publicou a reportagem.
A empresa também esteve envolvida nos estágios iniciais da negociação de Michael Cohen, ex-advogado de Trump, com Stormy Daniels, ex-atriz pornô que também afirma ter tido um caso com o presidente americano em 2006. A AMI diz que não pagou à ex-atriz pornô, mas que notificou ao ex-advogado de Trump de que ela estava tentando vender sua história ao tabloide.
Por causa das acusações de Bezos, os agentes federais podem investigar se a A.M.I. violou os termos do acordo com procuradores de Manhattan.