Durante formatura do Rio Branco | Bolsonaro diz que não tem conversa com Maduro e volta a citar Argentina

Em meio à crise da Venezuela, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse hoje que, "quando a saliva acaba, entra a pólvora". A declaração foi dada durante a cerimônia de formatura de uma nova turma de diplomatas, no Palácio do Itamaraty. "São eles [diplomatas] que nos evitam entrar em guerra. Muito simples: quando acaba a saliva, entra a pólvora. Não queremos isso", disse Bolsonaro.

Questionado sobre se a declaração era uma referência à crise na Venezuela, Bolsonaro disse que não. "Não. A minha maior preocupação é com a Argentina hoje em dia", afirmou, sem explicar o motivo da inquietação.

A declaração acontece em meio em um momento delicado das relações entre o Brasil, Venezuela e Argentina. Na Venezuela, o Brasil apoia a saída do ditador Nicolás Maduro do poder e aposta suas fichas no presidente autoproclamado do país, Juan Guaidó. Ontem, o presidente disse ao jornal Folha de S.Paulo que o governo brasileiro iria "até o limite do Itamaraty" no caso venezuelano.

A menção à Argentina durante a breve entrevista que concedeu após a cerimônia é a mais nova manifestação de contrariedade do presidente em relação às pesquisas que apontam um cenário favorável à volta da ex-presidente Cristina Kirchner ao poder.

A Argentina realizará eleições presidenciais neste ano e o atual presidente, Maurício Macri, primeiro presidente a visitar Bolsonaro após a posse, tem enfrentado dificuldades para se reeleger em meio a uma crise econômica.

Cristina Kirchner, que já governou a Argentina por dois mandatos, é associada à esquerda latino-americana. Ela e seu falecido marido, o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, eram bastante próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em contrapartida, Bolsonaro vê em Macri um parceiro contrário à esquerda no continente.

Em seu discurso durante a cerimônia, Bolsonaro comparou o país à Venezuela. "Além da Venezuela, a preocupação de todos nós deve se voltar um pouco mais ao sul, agora. À Argentina. Por quem poderá voltar a comandar aquele país. Não queremos e acho que o mundo todo não quer uma outra Venezuela mais ao sul do nosso continente", afirmou Bolsonaro em seu discurso.

Bolsonaro afirmou que, na sua avaliação, Maduro não cairá enquanto tiver apoio maciço das Forças Armadas. "A gente espera que essa fissura que está na base do Exército vá para cima. Se não enfraquecer o Exército da Venezuela o Maduro não cai", disse o presidente.

Desde a última terça-feira, uma nova onda de protestos tomou conta das principais cidades do país. Guaidó anunciou ter o apoio de militares para derrubar Maduro, mas o apoio não se consolidou junto ao alto comando das Forças Armadas.

O líder opositor Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar, fugiu e se refugiou na embaixada da Espanha. Maduro, por outro lado, fez discursos anunciando que seu apoio junto aos militares continua sólido.

Desde as manifestações de terça-feira, militares e integrantes do governo brasileiro têm se reunido para avaliar a situação no país vizinho. Questionado sobre se tentaria estabelecer diálogo com Maduro, Bolsonaro rechaçou a ideia.

"Acho que não tenho que conversar com ele. O que queremos, no meu entender, ele não vai ceder", afirmou.

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