Ele foi treinado pela Al Qaeda para explodir o metrô de NY, mas depois trocou de lado
Ele era um estudante do bairro de Queens (Nova York) que abandonou o colégio e trabalhava num carrinho de café no centro de Manhattan em 2006, quando um amigo lhe entregou uma fita de áudio de um religioso muçulmano radical.
Foi o início de uma odisseia pessoal que levou o jovem Najibullah Zazi a lutar no Afeganistão, onde um oficial da Al Qaeda o treinou para fabricar bombas e o mandou de volta aos Estados Unidos. Então ele e dois amigos planejaram um ataque suicida ao metrô de Nova York.
Zazi foi preso em 2009, e na última quinta-feira (2) seu caso chegou ao fim quando um juiz federal, citando sua cooperação com as autoridades americanas e seu depoimento em dois julgamentos, deu a Zazi uma pena de dez anos que, segundo seus advogados, poderá resultar em sua libertação dentro de alguns dias.
A trama, que as autoridades chamaram de uma das mais perigosas conspirações terroristas desde os atentados de 11 de Setembro, foi mais tarde abandonada por Zazi e dois de seus ex-colegas na Escola Secundária de Flushing, porque eles temeram estar sendo vigiados.
Zazi trocou de lado depois de ser preso, oferecendo o que o governo chamou de "cooperação extraordinária", que incluiu explicações sobre grupos terroristas e informação sobre seus amigos e familiares.
Essa cooperação valeu a Zazi a liberdade. "Essa segunda chance inacreditável apareceu no seu caminho", disse o juiz Raymond Dearie. "E você a mereceu."
Foi um fim incomum para um caso de terrorismo grave, que começou com uma conspiração como essa de que Zazi participou.
Um promotor, Douglas Pravda, disse ao juiz Dearie na quinta-feira (2) que os crimes de Zazi eram "os mais graves possíveis", mas acrescentou que ele tinha "repudiado a ideologia terrorista" e fornecido informações que "foram incrivelmente valiosas para o governo americano e nossos aliados estrangeiros".
Usando uniforme azul-escuro de detento, Zazi deu um breve depoimento com a voz clara. Disse que tirou o diploma de equivalência colegial enquanto esteve preso e que não era mais a mesma pessoa que quando foi detido.
"Eu me esforcei para corrigir meu terrível erro cooperando", disse ele. "Tenho um conhecimento mais profundo de mim mesmo e entendimento do verdadeiro significado do islamismo."
Documentos do tribunal relacionados ao caso de Zazi contam a história de um rapaz que se converteu à causa violenta da jihad, depois passou por uma conversão diferente, oferecendo às autoridades dos Estados Unidos informações críticas sobre a Al Qaeda e que levaram a acusações contra várias outras pessoas.
Ao fazê-lo, ele se tornou um alvo para os assassinos da Al Qaeda, disseram os promotores em um memorando da sentença. Houve também um preço pessoal. Como parte de seu acordo de cooperação, Zazi concordou em depor contra seus dois melhores amigos, Zarein Ahmedzay e Adis Medunjanin, sobre sua participação no complô.
Os três tinham feito um juramento mútuo em 2008 de que lutariam ao lado dos mujahidin do Taleban, matariam soldados americanos e derrotariam os Estados Unidos ou morreriam tentando, diz o memorando. Zazi chorou no banco de testemunhas ao depor no julgamento de Medunjanin em abril de 2012.
Zazi também deu às autoridades informações sobre seu primo Amanullah Zazi e seu pai, Walid Wali Zazi, ambos condenados por crimes relacionados à trama de explodir o sistema de metrô.
Najibullah Zazi nasceu no leste do Paquistão em 1985 e se mudou para Nova York em 1999, aos 14 anos. Ele estudou na Escola Secundária de Flushing, mas desistiu no último ano; trabalhou em uma mercearia e um restaurante de fast-food antes de se tornar vendedor ambulante de café, segundo os documentos do tribunal.
Com 20 e poucos anos, ele começou a escutar centenas de horas de palestras do xeque Anwar al-Awlaki, um imame iemenita-americano que se tornou um líder da Al Qaeda na península Arábica, e do xeque Abdullah el-Faisal, pregador jamaicano que foi condenado no Reino Unido em acusações que incluíam instigação a assassinato.
Em 2008, Zazi assistia a vídeos de ataques suicidas e com morteiros da Al Qaeda e do Taleban. Ele passou a acreditar que os Estados Unidos eram um Exército ocupante no Afeganistão e tinham forjado os atentados de 11 de Setembro como pretexto para a invasão, segundo o memorando.
Ele transferiu seu carrinho de café para outro vendedor e, com seus ex-colegas de escola Ahmedzay e Medunjanin, voou de Newark, em Nova York, para Peshawar, no Paquistão, em agosto de 2008.
Lá, os três moradores de Queens aprenderam a usar rifles AK-47 e granadas lançadas por foguetes em um campo de treinamento da Al Qaeda. Mais tarde, um líder graduado do grupo terrorista, Saleh al-Somali, convenceu Zazi e seus amigos a voltar para os Estados Unidos para realizarem um ataque suicida.
Em 2009, quando morava no Colorado, Zazi começou a comprar produtos químicos de que precisaria para fabricar os detonadores. Naquele verão, durante um encontro no Parque Estadual Bear Mountain, no interior de Nova York, Zazi e os dois outros concordaram com o plano de usar coletes com bombas no metrô e falaram sobre atacar trens que saíssem do terminal Grand Central na hora do rush.
Eles decidiram praticar o ataque em um dia próximo do aniversário dos atentados de 11 de Setembro, mas então cancelaram ao saber que policiais tinham indagado sobre Zazi a um líder religioso de Queens.
Zazi, que tinha dirigido até Nova York, voou de volta ao Colorado em 12 de setembro e foi preso uma semana depois.
Inicialmente ele mentiu para os agentes do FBI que o interrogaram, mas depois que concordou em cooperar, em fevereiro, segundo os promotores, o nível de informação que ele forneceu foi excepcional.
Ele depôs contra Medunjanin e Abid Nasser, que foi acusado de fazer parte de uma célula que planejava bombardear um shopping center em Manchester, na Inglaterra.
Sua informação também foi usada em conexão com o processo de Ahmedzay e de seu próprio pai, que foi condenado por mentir a agentes federais e destruir evidências. Ele também ajudou os promotores a condenar Muhanad Mahmoud al-Farekh, que foi acusado de conspirar para atacar soldados americanos no Afeganistão.
Em uma carta ao juiz, Zazi disse que foi influenciado por Anwar al-Awlaki com seu "ensinamento distorcido e corrompido do Corão" e tinha aceitado a ideia de que os Estados Unidos queriam destruir o islã. Ele culpou sua educação deficiente.
"Olhando para trás, agora vejo como fui ingênuo, vivia num mundo imaginário", escreveu ele. "Meritíssimo, os pouco instruídos são alvos perfeitos para os inescrupulosos."