Eleições legislativas nos EUA serão as mais 'presidenciais' da história
O presidente dos EUA, Donald Trump, será o centro das atenções nas eleições para o Legislativo do país, em novembro, como nenhum outro mandatário na história.
A proporção de eleitores que veem em Trump uma razão para definir seu voto nos representantes estaduais na Câmara e no Senado saltou de 48%, em 2014, para 60% em 2018 —um recorde, segundo o Centro de Pesquisa Pew.
Entre cidadãos identificados com o Partido Republicano, 52% dizem que seus votos serão definidos pelo apoio a Trump, enquanto entre os democratas 61% afirmam que votarão contra ele.
As chamadas eleições de meio de mandato ("midterm") acontecem no biênio posterior à eleição do presidente. Neste ano, serão renovadas todas as 435 vagas na Câmara (o mandato é de dois anos).
Hoje, os republicanos detêm a confortável maioria de 24 assentos. Mas, segundo especialistas, há 48 assentos na Câmara sendo disputados pelos dois partidos nesse pleito (os demais devem renovar o mandato do atual ocupante ou eleger um correligionário).
Também serão renovadas as cem cadeiras do Senado, onde a legenda de Trump tem hoje 51 representantes. Nesse caso, a tarefa democrata é mais dura —das 35 vagas em disputa, 26 são do partido, que precisaria reter todas elas e ainda tirar duas dos republicanos.
Tradicionalmente guiados por interesses estaduais nas "midterms", os eleitores neste ano serão altamente influenciados pela polarização nacional, diz Marc Caputo, repórter do site Politico: "Não importa o quão graves sejam os assuntos locais, esta eleição vai girar em torno de Trump".
Centros de pesquisa apontam os democratas à frente dos republicanos em até 15% nas vagas sob disputa na Câmara. Já o site de projeções FiveThirtyEight, do celebrado estatístico Nate Silver, até aqui calcula em 80,4% as chances de os democratas se tornarem maioria.
Não seria exótico: nos EUA, é comum que a oposição vire o jogo nas "midterm". Foi assim em 2010 e em 2014, quando os republicanos tomaram a Câmara e impuseram obstáculo à gestão de Barack Obama.
Especialistas creditam esse favoritismo a polêmicas em torno de Trump, cuja aprovação caiu para 36% em setembro, segundo pesquisa do instituto SSRS para a CNN.
No início do mês, The New York Times publicou texto de opinião anônimo de um(a) membro do alto escalão que diz que funcionários do governo sabotam Trump para evitar danos ao país em temas como política externa.
O presidente também foi duramente criticado, inclusive por republicanos, por chamar de "um sucesso incrível" a resposta de seu governo ao furacão Maria, que matou quase 3.000 pessoas em Porto Rico, em setembro de 2017.
A última polêmica diz respeito a Brett Kavanaugh, indicado para a Suprema Corte dos EUA e acusado por três mulheres de tê-las agredido sexualmente na juventude.
Em vez de ameaçar o presidente, contudo, as polêmicas podem acabar fortalecendo o voto republicano em 2018, diz Andrés Oppenheimer.
Colunista do jornal The Miami Herald, apresentador do canal CNN em espanhol e autor de livros sobre a política externa dos EUA, o jornalista argentino diz que o 'elefante na sala' nestas eleições é o impeachment de Trump.
E, como o voto no país não é obrigatório e o comparecimento vem caindo —foi de 61,4% em 2016, o menor em 20 anos—, "liderar pesquisas não importa tanto quanto saber quantas pessoas de fato sairão de casa para votar".
Enquanto os democratas estarão motivados por temas como gênero e raça e pela aversão a Trump, ele diz, para os republicanos "será questão de vida ou morte evitar que uma maioria democrata na Câmara derrube seu presidente".
Esse argumento pode ser mais eficiente para incentivar eleitores a saírem de casa em 6 de novembro. Ironicamente, quanto mais Trump apanhar, maiores podem ser as chances de seu partido manter a maioria no Congresso.