Em edição com mais equipes brasileiras, país fracassa na Libertadores
O Brasil passou 22 anos como país hegemônico na Libertadores. Entre 1992 e 2013, ganhou o torneio 13 vezes e houve clube brasileiro em 19 finais. Ausências apenas em 1996, com River Plate campeão, 2001, com Boca Juniors vencedor, e 2004, ano do Once Caldas (COL). Depois da conquista do Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho, há cinco temporadas, o sucesso minguou.
Das últimas cinco edições, só um finalista daqui: o Grêmio, em 2017. Neste ano, com oito brasileiros, a primeira Libertadores com tantos representantes de um mesmo país terminará com dois argentinos classificados para a decisão.
À parte o recurso do Grêmio aos tribunais, é preciso entender as razões do desempenho ruim. Nos últimos dez anos, os times daqui venceram a Libertadores cinco vezes, contra duas dos argentinos e uma do Atlético Nacional (COL). Não houve derrota de time do Brasil em final, desde 2010. Inter, Santos, Corinthians, Atlético-MG e Grêmio venceram adversários do México, Uruguai, Argentina, Paraguai e novamente Argentina.
A diferença econômica ajuda o Brasil. O Flamengo tem receita anual de R$ 600 milhões, o River Plate arrecada R$ 350 milhões por ano. Mas os argentinos melhoraram com a criação da Superliga e a maioria dos dirigentes daqui reclama de estruturas pré-falimentares. O presidente do Atlético-MG, Sérgio Sette Câmara, é um desses.
Na América do Sul inteira, é difícil encontrar clube saudável.
Do ponto de vista técnico, há dez anos discute-se a qualidade dos técnicos brasileiros. Não parece ser o problema central, mas é justo que faça parte do debate. É necessário olhar para tudo, observar todos os aspectos, sem preconceitos. A procura é pelo antídoto da derrota.
Chama a atenção a informação do blog Patadas y Gambetas, do jornalista Tales Torraga, de que o Boca Juniors havia disputado 21 jogos a menos que o Palmeiras até a partida de volta da semifinal da Libertadores.
Ampliando o estudo e considerando apenas jogos oficiais, descobre-se que o Palmeiras disputou 67 partidas, o Grêmio 64, o River Plate 42 e o Boca Juniors 41. Diferença de 26 partidas oficiais a mais para os brasileiros. Mesmo considerando 8 jogos por mês, o que só acontece no Brasil, os argentinos jogaram o equivalente a três meses a menos.
É como se aqui o ano tivesse 15 meses de trabalho. O cansaço bate bem na hora de decidir.
“O Palmeiras disputou nove partidas por mês nos últimos três meses”, disse Felipão após a derrota em La Bombonera. Ele não usou o argumento como muleta, mas citou o número.
Os clubes brasileiros têm mais orçamento e mais talento, descobrem mais jogadores e podem contratar mais estrangeiros bons de bola. Os craques argentinos vão para a Europa. Os brasileiros também. Contratações só de quem é bom, mas não o suficiente para os europeus.
O debate precisa incluir tudo.
Fernando Calazans cansou-se de escrever nas páginas do jornal O Globo sobre a formação ruim de jogadores jovens nos clubes do Brasil. É também importante pensar nisso. Por outro lado, o Brasil é o único país que tem jogador na final da Champions League todos os anos desde 2000. Os maiores rivais em revelações, Alemanha, França, Espanha e Argentina, ficaram ausentes pelo menos em uma temporada.
Por mais motivos que se apresente, sempre será necessário pensar no calendário. Não é possível chegar às finais com o corpo castigado por 26 jogos a mais do que os rivais. A disputa não é só com os sul-americanos. A Europa venceu as últimas quatro Copas do Mundo e os dirigentes de lá dizem que a hegemonia vai aumentar. Nesse caso, caberá ao Brasil a mesma representatividade da África.
Na Libertadores, o país já está atrás da Argentina.