Em guerra interna, Santos vota impeachment do presidente
A votação do impeachment do presidente do Santos, José Carlos Peres, tornou-se uma disputa de poder com acusações pessoais, personagens ocultos e rachas entre grupos políticos que, em dezembro do ano passado, juravam amor eterno.
A disputa ameaça o próprio clube. Após a saída de integrantes do Comitê de Gestão, o órgão tem apenas cinco membros, número mínimo para tomar qualquer decisão. Se mais alguém renunciar, o Santos ficará paralisado.
A assembleia de sócios para decidir se Peres deve ser afastado acontece das 10h às 18h deste sábado (29), na Vila Belmiro. Ele é acusado de descumprir o estatuto do clube.
Peres era dono da Saga Talent, empresa de agenciamento de jogadores, ao mesmo tempo em que já ocupava o cargo de presidente. Em sua defesa, o dirigente alega que a companhia existia apenas no papel, nunca emitiu uma nota fiscal e já foi fechada.
Eleito graças a uma costura de alianças políticas que estavam na oposição da gestão anterior, comandada por Modesto Roma Júnior, Peres começou a ouvir reclamações na primeira semana de administração, quando rejeitou acordos de campanha.
Passou a tomar todas as decisões sozinho ou com a ajuda de um círculo restrito de apoiadores. Nos últimos tempos, um dos mais importantes tem sido Renato Duprat, empresário que participou do grupo Doyen e foi patrocinador do Santos na década de 1990.
Apesar de promessa de unir os santistas, com Peres o clube entrou em uma situação de guerra permanente. Antigos aliados se uniram a pessoas que foram afastadas pela nova administração.
O vice-presidente, Orlando Rollo, assumirá o clube se o impeachment for aprovado. Nos bastidores, ele passou a ter apoio de conselheiros do antigo grupo de Roma Júnior, como o conselheiro Marcio Rosas e o empresário Luiz Taveira. Este último era o principal nome do futebol antes da eleição de Peres.
Integrantes da oposição adotaram a tática de dizer que Peres rejeita a cidade de Santos e fizeram protestos na Câmara Municipal, pedindo que ele perca o título de cidadão santista, recebido em abril.
O presidente, nascido em Monte Azul Paulista (interior de SP), usou a palavra “puxadinho” para se referir à Vila Belmiro e falou sobre “pensamento provinciano” do clube.
Orientado por seus assessores, ele rebateu com um argumento que ganhou força entre os santistas nas redes sociais: que o processo se trata de nova eleição, dele contra Rollo, que o teria traído e não o estaria deixando trabalhar.
Peres defende que a oposição a ele ocorre por estar tentando enxugar o quadro de funcionários e sanar as dívidas deixadas pelo antecessor.
Pode votar neste sábado quem estiver associado ao Santos há pelo menos um ano e com as mensalidades em dia.
O colégio eleitoral tem 17 mil pessoas, mas é pouco provável que o comparecimento fique perto desse número. Na eleição presidencial do final de 2017 foram 5.600 votos.
Cada eleitor receberá duas cédulas, porque há dois processos de impeachment contra Peres aprovados pelo conselho deliberativo do clube.
O resultado deve ser divulgado até as 20 h.