Em três meses, de mito a candidato a bobo da corte
A multidão que lotou o vale do Anhangabaú em São Paulo nesta semana atrás de uma vaga de trabalho é a maior lembrança do que se passa hoje no Brasil, derrubado por políticas ruins da ex-presidente Dilma e que elegeu Jair Bolsonaro na esperança de uma recuperação.
Mas ser chamado de “Dilma de calças” é pouco para o que Bolsonaro fez até aqui com o formidável capital político que obteve nas urnas, e que se esvai em velocidade recorde.
O "mito" revelou-se incompetente politicamente na fundamental relação com o Congresso e um tremendo encrenqueiro. Nada além disso por enquanto.
Seria só um bobo da corte, como às vezes age Donald Trump, se o Brasil não estivesse à beira de um colapso que arrisca por a perder o projeto de estabilização do Plano Real, de 1994.
Com a escolha de Paulo Guedes na Economia, Bolsonaro permitiu a seu ministro reunir o que há de melhor na área econômica. Tudo conspirava a favor de uma recuperação —os índices de confiança, a Bolsa, o dólar— até o presidente começar a governar.
Agora, imagina-se o que essa área técnica pensa intimamente ao ver a barca furada em que o governo Bolsonaro vai se transformando. Haverá limites para o suportável, como Guedes já sinaliza.
Em menos de três meses, empresários e banqueiros também passaram a pedir abertamente “foco” ao presidente na Previdência, demonstrando desilusão e ansiedade com o que aparentemente compraram na campanha eleitoral.
Mas Bolsonaro não para.
Revela dia após dia suas incapacidades com um repertório limitado e comportamento infantil enquanto quer impor sua agenda retrógrada a uma sociedade que só quer voltar a trabalhar após uma recessão brutal.
É significativo que na mesma manhã da imensa fila no Anhangabaú, o presidente estivesse no cinema assistindo “Superação - o milagre da fé” ao lado de sua estranha ministra Damares Alves.
Naquele mesmo dia, a Câmara ameaçou ignorar sua proposta para a Previdência e votar a de Temer e, mais tarde, impôs uma imensa derrota ao governo ao aprovar proposta que retira do Executivo poder sobre o Orçamento, tornando-o ainda mais engessado.
Diz-se que não existe vácuo no poder. Bolsonaro parece caminhar para abrir mão do seu.