Encerramento da Flip traz diálogo de Hilda Hilst com outras linguagens
Autora homenageada da 16ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), Hilda Hilst se manifestou neste domingo (29) na mesa de encerramento por meio de três artistas que, em diferentes linguagens, dialogaram com sua obra literária.
No debate intitulado O Escritor e Seus Múltiplos—mesmo nome de um poema de Hilda—, os múltiplos em questão foram o fotógrafo Eder Chiodetto, a atriz Iara Jamra e o músico Zeca Baleiro.
Chiodetto fotografou Hilda em sua residência, a Casa do Sol em Campinas (SP), como parte de seu trabalho O lugar do escritor.
“Como estratégia eu marcava de ficar o dia inteiro e só saía de noite. Eu não queria fotografar a embalagem do escritor, queria atravessar isso. Com Hilda não funcionou, porque ela não saía do personagem. Quando falava sobre a relação com o pai ou a mãe, ela não tinha nenhum filtro. Mas na hora de se mostrar como imagem, percebi que tinha”, disse o fotógrafo.
Iara interpretou a menina de oito anos protagonista de “O Caderno Rosa de Lori Lamby” em uma adaptação para o teatro em 1999 e reencenou uma passagem para o público na tenda neste domingo.
Neste ano, a peça voltou a entrar em cartaz, com atuação de Iara e direção da mesma Bete Coelho, na Biblioteca Mário de Andrade.
“Em 1999 acho que foi menos chocante que agora [a recepção do texto, em que a menina transa com homens adultos]. Infelizmente, com tudo isso que estamos passando, o público hoje esteja menos arejado, ele está muito tenso”, lamentou a atriz.
Para Zeca Baleiro, a escritora de Jaú (SP) era “uma figura transgressora, provocativa, uma personagem rock and roll”. O músico lançou em 2005 o álbum “Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé”, baseado no livro “Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão”, lançado por Hilda em 1974.
“A Hilda gostava de chocar”, disse Baleiro, ao lembrar do telefonema de um assessor da Secretaria de Cultura de Campinas, que perguntou o que a nova gestão poderia fazer pela escritora. “Pode vir me comer, porque eu tô num jejum de cinco meses”, contou ele, arrancando gargalhadas da plateia.
Ao final, Baleiro cantou duas músicas de “Ode”, que no disco foram cantadas por Verônica Sabino e Mônica Salmaso.