Entre choro e abraço, famílias separadas pela guerra se reencontram na Coreia

Cerca de 90 famílias das Coreias do Norte e do Sul choraram e se abraçaram nesta segunda-feira (20), quando os países vizinhos realizaram os primeiros reencontros em três anos para parentes afastados pela Guerra da Coreia em mais de seis décadas.

As reuniões breves devem durar pouco menos de 11 horas nos próximos três dias no balneário turístico do Monte Kumgang, na Coreia do Norte, como resultado da retomada dos contatos bilaterais neste ano na esteira de um impasse provocado pelos programas nuclear e de mísseis de Pyongyang.

Do lado sul-coreano, foram escolhidos 89 idosos para participar —eles foram acompanhados por familiares, num total de 330 pessoas—, enquanto o Norte enviou 185 pessoas. 

Muitos estavam de cadeiras de rodas e não reconheceram seus familiares do outro lado. 

"Como você pode estar tão velha?", perguntou Kim Dal-in, de 92 anos, à sua irmã, Yu Dok, após contemplá-la brevemente em silêncio.

"Vivi todo este tempo para encontrá-lo", respondeu a parente de 85 anos, enxugando as lágrimas e segurando uma foto do irmão ainda jovem.

As famílias separadas são vítimas de um impasse político de décadas porque a guerra de 1950-53 terminou em uma trégua, não um tratado de paz, e os laços ficaram mais tensos à medida que Pyongyang intensificava seus programas de armas.

Mais de 57 mil sobreviventes sul-coreanos se registraram para os reencontros familiares, que geralmente terminam em despedidas dolorosas.

Um dos momentos mais emocionantes desta segunda aconteceu quando Lee Keum-seom se encontrou com seu filho Ri Sang-chol. Os dois foram separados durante a tentativa de fuga da família da guerra —ela escapou para o Sul, mas deixou para trás a criança então com quatro anos e o marido, que já morreu. 

"Quantas crianças você teve? Você tem filhos?" perguntou entre lágrimas Lee a Ri, enquanto apertava o rosto do filho. 

Desde 2000, cerca de 20 mil pessoas já participaram das 20 rodadas de reencontro e outras 3.700 trocaram mensagens de vídeo com seus parentes do outro lado. Em todos os casos, a reunião acontece apenas uma vez e quando o encontro acaba cada um volta para seu país. 

Seul passou anos pedindo mais reuniões frequentes entre famílias separadas, inclusive por meio de videoconferências, mas a iniciativa muitas vezes foi prejudicada pela fragilidade dos laços.

Os reencontros desta segunda foram os primeiros em três anos, período em que a tensão entre os vizinhos voltou a aumentar após a chegada de Kim ao poder. 

Desde o início de 2018, porém, a relação entre Seul e Pyongyang voltou a melhorar, culminando nos encontros do ditador com Moon em abril —quando os reencontros desta semana foram combinados— e com o presidente americano, Donald Trump, em junho. Desde as cúpulas entre os líderes, porém, as negociações para a desnuclearização da península está travada

A Coreia do Sul considera que a separação das famílias é uma das principais questões humanitárias ainda existentes em decorrência da guerra, que matou e feriu milhões de pessoas e dividiu a península em duas. 

Segundo o Ministério da Unificação sul-coreano, há entre 600 mil e 700 mil pessoas no país com parentes no Norte e mais de 75 mil dos 132 mil sul-coreanos que se já inscreveram para participar de alguma rodada de reuniões já morreram. 

Por isso, o presidente Moon afirmou nesta segunda que o tempo para fazer as reuniões familiares está acabando. Segundo ele, seria "uma coisa vergonhosa" se tantos idosos morrerem sem saber se seus parentes ainda estão vivos. 

O próprio presidente atendeu um dessas reuniões em 2004 para encontrar uma tia que mora no Norte. "Como um membro de uma família separada, eu compartilho e lamento a tristeza" disse ele. 

O governo norte-coreano, porém, tem relutado em intensificar os reencontros porque este é um de seus principais pontos de barganha nas negociações. O regime também não quer aumentar a quantidade de norte-coreanos que tem informação do exterior, algo que poderia acontecer com as reuniões familiares.

Enquanto no Sul um programa de computador é usado para determinar aleatoriamente quem dos inscritos poderá participar dos encontros, no Norte analistas acreditam que que as pessoas são escolhidas de acordo com sua proximidade ao regime. 

Os reencontros, que começaram em 1985, às vezes são uma experiência traumática, dizem sobreviventes que sabem que dificilmente voltarão a ver seus familiares, já que muitos têm 80 anos ou mais e os que estão sendo contemplados pela primeira vez normalmente têm prioridade para visitas.

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