Escalada militar na Líbia preocupa comunidade internacional
A ofensiva militar do general Khalifa Haftar contra a capital da Líbia, Trípoli, tem provocado manifestações de preocupação da comunidade internacional, que reconhece o governo de união nacional, que controla a cidade, como legítimo.
A milícia de Haftar, o Exército Nacional Líbio, com sede no leste do país, tem avançado desde quinta (4) contra o governo, numa tentativa de tomada de poder, e ameaçado as negociações de paz que a ONU tem procurado mediar para resolver as disputas pelo domínio do país.
O confronto entre facções e milícias rivais pelo controle da Líbia vem dilacerando o país desde a derrubada de Muammar Gaddafi em 2011.
Forças do governo investiram contra o avanço do exército rebelde, que já capturou três cidades nos arredores de Trípoli, com ataques aéreos e enfrentamento por terra ao sul da capital. O chefe do governo líbio, Fayez al-Sarraj, acusou Haftar de traição e prometeu “uma resposta com força e firmeza”, alertando contra “uma guerra sem vencedores”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve em Trípoli e Benghazi nesta semana e a instituição anunciou no sábado (6) que tem intenção de manter a conferência programada para ocorrer na cidade de Ghadames entre 14 e 16 de abril, com vistas a negociar a realização de eleições para tirar o país da instabilidade institucional.
O enviado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salame, afirmou estar fazendo esforços para que a crise não saia de controle. “Trabalhamos por um ano nessa conferência internacional, não vamos desistir tão rápido desse trabalho político”, disse.
Representantes de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia —reunidos para um encontro do G7— afirmaram que caso Haftar não interrompa a ameaça contra o governo de Trípoli, pode sorer uma ação internacional.
Em um encontro do grupo na França, o ministro alemão Heiko Maas afirmou que ele e seus colegas concordaram em pressionar os responsáveis pela escalada no conflito líbio, especialmente o general. A Rússia também exortou o militar a se conter e insistiu em uma resolução política para as disputas do país.
Mesmo com os apelos da comunidade internacional, as forças de Haftar não cessaram a ofensiva contra a capital.
O general de 75 anos é um antigo oficial do exército do ditador Gaddafi e chegou a receber apoio da CIA (a agência americana de inteligência).
Em 2014, ele anunciou que planejava unificar a Líbia sob seu controle e passou os três anos seguintes lutando para capturar a cidade de Benghazi, que estava sob domínio de milícias islâmicas. Com apoio estrangeiro, conseguiu estabelecer controle sobre boa parte da porção leste do país.
Quando a Líbia se esfacelou em uma guerra civil, também em 2014, a ONU, com apoio dos EUA, tentou resolver o conflito criando um governo de união sediado em Trípoli, comandado por al-Serraj.
O governo de Haftar criou certa estabilidade no território que dominava, e surgiu algum equilíbrio entre o governo de Trípoli, no oeste, e o do general, no leste, que se desfez dois meses atrás, quando as forças de Haftar avançaram pela primeira vez para o deserto no sul do país e tomaram o controle de um dos maiores campos de petróleo da Líbia, Sharara.
Analistas previram, então, que era só questão de tempo até que o general avançasse contra a capital do país, buscando criar uma aura de inevitabilidade quanto a sua ascensão como o próximo homem forte da Líbia.