Espanha antecipa eleições pela terceira vez desde 2011
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou nesta sexta-feira (15) que o país terá eleição antecipada em 28 de abril para formar um novo governo.
O anúncio vem dois dias depois de o líder socialista sofrer uma derrota dura na Câmara dos Deputados, ao ver a proposta de orçamento do Executivo para 2019 ser rechaçada, o que inviabiliza a implantação de seu programa de governo.
O calendário eleitoral espanhol só previa eleições em meados de 2020, quatro anos depois das que selaram um segundo mandato para Mariano Rajoy (do Partido Popular, de direita). A Espanha adota o sistema parlamentarista de governo.
O conservador seria derrubado em junho de 2018 por uma moção de desconfiança votada pelos deputados em meio a um escândalo de corrupção envolvendo o PP. Foi quando Sánchez chegou ao poder.
É a terceira vez em oito anos que a Espanha antecipa as eleições legislativas, e os líderes socialistas não têm um retrospecto auspicioso em tomar essa decisão.
Em 2011, José Luis Zapatero adiantou em quase seis meses a votação prevista para o ano seguinte e não conseguiu emplacar seu terceiro mandato. Na década anterior, Felipe González fez o mesmo, e justamente ao ter sua proposta de orçamento rechaçada pelo Legislativo. Seria o fim de um período de quase 14 anos à frente da Espanha.
Depois que, em 2015, Rajoy não obteve maioria para formar seu segundo governo, o conservador se viu forçado a convocar uma nova eleição, em junho de 2016.
Na votação da últma quarta-feira (13) na Câmara, Sánchez não teve o apoio dos partidos independentistas catalães, essenciais, oito meses antes, para a aprovação da moção que havia tirado Rajoy do palácio da Moncloa.
Os secessionistas insistem em que Sánchez reconheça o direito da Catalunha à autodeterminação, o que ele descarta peremptoriamente.
Se o socialista o fizesse, abriria margem para um novo plebiscito sobre a separação da região do resto da Espanha —desta vez, legal, ao contrário do realizado em outubro de 2017, não reconhecido por Madri e que resultou em uma declaração unilateral de independência e, mais tarde, na prisão de vários líderes do movimento, julgados nesta semana.
O governo fez nos últimos meses vários gestos de aproximação em relação aos separatistas catalães: desenhou um orçamento que aumentaria o volume de recursos destinados à comunidade autônoma, retomou o diálogo bilateral com a administração regional e aceitou a nomeação de um “relator” externo para as negociações entre os partidos locais com vistas a dar fim ao impasse —várias legendas se opõem ao “divórcio” de Madri.
Os acenos enfureceram a direita, que viram neles deferência excessiva, como se se tratasse de uma relação entre dois países independentes, e não de um contato entre o Executivo nacional e alguns representantes locais, regionais.
A questão da independência deve estar no centro da campanha e do debate político até abril. Como a economia espanhola vai relativamente bem, com projeção de crescimento na casa dos 2% em 2019, não deve estar no topo das inquietações dos eleitores.
As primeiras pesquisas mostram os socialistas ligeiramente à frente do PP (com média de 24% das intenções de voto, contra 21% dos conservadores). Em seguida, aparecem a legenda de centro-direita Cidadãos, com 18%, os esquerdistas radicais do Podemos, com 15%, e a nova sigla de ultradireita Vox, com 11%.
Se esse prognóstico se confirmar, os socialistas terão dificuldade em formar um governo —somados seus votos com os do Podemos, mal chegariam a 40% do total.
Podem precisar selar uma aliança com o Cidadãos, o que hoje parece muito improvável, já que o partido centrista tem se deslocado para a direita nos últimos meses e, em dezembro, fechou uma aliança com PP e Vox para encerrar a hegemonia socialista de quase quatro décadas no comando da Andaluzia.