Espetáculo no Rio | Elas deram show

A primeira noite do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi marcada pela disparidade de desfiles. Enquanto Salgueiro, Unidos da Tijuca e Unidos do Viradouro fizeram ótimos desfiles, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Acadêmicos do Grande Rio ficaram devendo.

O Império Serrano, em um desfile frágil em praticamente todos os quesitos, dificilmente escapará do rebaixamento para o Grupo de Acesso em 2020.

Império Serrano

O Império Serrano abriu a noite apresentando muitos problemas. Com dificuldades financeiras na preparação de seu Carnaval, desfilou com alegorias e fantasias com sérios problemas de acabamento. Nem o apelo popular de "O que é o que é", grande sucesso da carreira de Gonzaguinha, conseguiu sensibilizar o público, que se limitou a assistir a passagem da verde e branca da Serrinha.

A tentativa de soar ousado custou caro ao Império Serrano. A comissão de frente se apresentou em um tripé e, logo após seu show, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Verônica Lima subiu no elemento alegórico. Nas duas primeiras cabines de julgamento, a saia de Verônica ficou presa no tripé, causando dificuldade para o início da dança. A estrutura ainda foi elevada, fazendo a visão da dança do casal impossível para quem estava no nível da pista e até para os jurados. Com um desfile repleto de falhas, no qual o destaque foi a bateria, o Império Serrano dificilmente conseguirá ficar no Grupo Especial.

Unidos do Viradouro

A Viradouro, voltando ao Grupo Especial depois de três anos de ausência, apostou todas as fichas no talento de Paulo Barros. E saiu inteiramente premiada da Marquês de Sapucaí. Com um carnaval ousado, criativo e colorido, a escola de Viradouro arrebatou o público e se credenciou a ser uma das favoritas à disputa do título. Desde a comissão de frente, criativa e de impacto, à dança do casal Julinho e Rute e o desempenho fantástico da bateria de Mestre Ciça, a Viradouro deverá colecionar notas 10 na apuração.

As alegorias, com o tradicional toque de criatividade de Paulo Barros, arrebataram o público, que se enterneceu com o carro que representava "A Bela e a Fera", se encantou com o navio fantasma do "Holandês voador" e delirou com o "Motoqueiro fantasma". Com fantasias com uma paleta de cores irrepreensível e com a leveza suficiente para os componentes, a Viradouro fez um desfile empolgante.

Acadêmicos do Grande Rio

Beneficiada pela virada de mesa do Carnaval passado, a Grande Rio trouxe um enredo sobre os pecados do cotidiano e que traz um pedido de desculpas pelo ocorrido. Porém, será difícil perdoar a Grande Rio. A escola fez um desfile em que o enredo não foi compreensível, onde o conjunto alegórico apresentou-se com falhas visíveis de acabamento e em que várias alas desfilaram com fantasias incompletas.

A comissão de frente, que trazia um Moisés modernos com os 10 mandamentos em um tablet e dançarinos com emojis na cabeça, não conseguiu passar a mensagem e arrancou aplausos apenas quando as cabeça dos dançarinos voavam graças a drones. Como ponto positivo, a cadência da bateria e o bom desempenho do intérprete estreante Evandro Malandro, que conseguiu conduzir bem o samba apenas mediano. A Grande Rio apresentou um Carnaval completamente anômalo ao seu padrão e dificilmente escapará do pelotão de baixo da classificação.

Acadêmicos do Salgueiro

Trazendo o enredo ansiado há muitos anos por seus torcedores, o Salgueiro entrou na avenida pisando forte. Cantando a plenos pulmões o samba-enredo, um dos mais populares da temporada pré-Carnavalesca, a vermelho e branca foi recebida com entusiasmo pela torcida. Com o tempo, a temperatura desceu um pouco, mas nada suficiente para apagar o brilho de um desfile de raça e alegria dos salgueirenses.

A trajetória do orixá Xangô, desde os tempos de rei de Oyó, passando por sua entronização no culto afro-brasileiro e o sincretismo religioso foi extremamente bem articulada pelo argumento do carnavalesco Alex de Souza, que também investiu em um conjunto alegórico de impacto. A comissão de frente, que trouxe o ator Eri Johnson, arrancou aplausos.

Já o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves, dançaram como nunca, com sincronia e precisão de movimentos. O Salgueiro teve como senão o fato de que algumas fantasias tiveram problemas de acabamento e isso poderá custar alguns décimos na apuração. De toda forma, para um Carnaval elaborado em dois meses por conta de disputas políticas, o saldo é extremamente positivo. O Salgueiro está na briga, definitivamente.

Beija-Flor

A campeã de 2018 desfilou com o enredo "Quem não viu, vai ver... as fábulas de um Beija-Flor". A proposta foi homenagear os 70 anos da agremiação. Porém, a opção narrativa se mostrou um tanto equivocada. Relacionar temáticas abordadas pela escola ao longo de seus Carnavais com fábulas de Esopo tornaram o entendimento do enredo praticamente impossível sem a consulta ao roteiro de desfile. O descompasso também se dava na diferença de linguagem e de paleta de cores entre alegorias e fantasias.

O samba da escola teve um desempenho apenas razoável. Em algumas alas, o canto não era uníssono. A evolução foi bastante irregular. Após a saída do primeiro setor, as alas começaram a apertar o passo e o último carro cruzou a avenida em menos de 20 minutos. O apenas morno desfile da Beija-Flor foi a prova de que nem os próprios integrantes da escola entenderam e sequer se identificaram com a proposta. Com um desfile tão irregular, a escola de Nilópolis terá que lutar muito para conseguir uma vaga no Desfile das Campeãs.

Imperatriz Leopoldinense

Penúltima escola a desfilar, a Imperatriz pretendia imprimir uma nova cara com o enredo "Me dá um dinheiro aí" trazendo um visual mais moderno e um tema com certa dose de irreverência. Todavia, a proposta dos carnavalescos Mário e Kaká Monteiro começou a naufragar logo nos primeiros momentos do desfile. Enquanto a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro se apresentavam na primeira cabine de jurados, o carro abre-alas empacou na área de armação. O buraco foi gigantesco e comprometeu absurdamente a evolução da escola, que voltou a apresentar outras falhas ao longo do desfile.

Bem sucedida no ensaio técnico, a despeito do samba de qualidade duvidosa, a Imperatriz sentiu o baque e fez um desfile frio, que não teve qualquer respaldo do público. O enredo, linear, foi compreensível, mas o visual não impactou. Algumas alegorias tinham a concepção um tanto simples, como o carro "Minha casa, minha vida", que mostrava as diferenças sociais. O tripé que trouxe Moacyr Franco, que imortalizou a marchinha de Carnaval que dá nome ao enredo, era pobre. Outro tripé, "Terra Brasilis", não desfilou - o que acarretará perda de pontos em enredo. A Imperatriz saiu da avenida deixando seus torcedores um tanto preocupados com a apuração de quarta-feira de Cinzas.

Unidos da Tijuca

Sob a batuta de Laíla, que agora integra sua Comissão de Carnaval, a Unidos da Tijuca deu uma verdadeira aula de evolução e canto. Impulsionada por um samba melodioso, os componentes desfilaram soltos e felizes. Com um tema um tanto messiânico, sobre a importância do pão para a humanidade, a Tijuca, em muitos momentos, lembrou a Beija-Flor da década passada, que cansou de conquistar títulos com evolução primorosa.

Alegorias muito bem elaboradas e com teatralizações sensibilizaram o público. As fantasias, leves e de fácil leitura, ajudaram na compreensão do enredo. A bateria de Mestre Casagrande valorizou  e sustentou o samba, defendido com muita competência com Wantuir. Muito forte nos quesitos e extremamente técnica, a Unidos da Tijuca credencia-se fortemente a disputar o campeonato.

Qual foi a melhor escola da primeira noite de desfiles no Rio de Janeiro?

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