Estado autofágico
Um dos problemas mais interessantes da história econômica brasileira dos últimos 70 anos (1947-2017) é tentar esclarecer o que houve na passagem dos primeiros 30 anos (1947-1980) para os últimos 40 (1981-2017).
Todos sabemos que tivemos uma forte crise do petróleo que quebrou os países que, como nós, dependiam da sua importação. Já em 1984 (depois de uma duríssima recessão), o Brasil havia produzido o equilíbrio de seu balanço em contas correntes, mas tudo foi desperdiçado com o desastroso “default”.
Em 1947, nosso PIB per capita (nossa produtividade) era 18% do americano; em 1980, 36% (tinha dobrado) e em 2017, regredido para 26%. Em outras palavras: entre 1947-1980, crescemos 2,2% ao ano acima dos EUA, e entre 1980-2017, decrescemos 0,9% ao ano em relação a eles!
Grosseiramente, a “produtividade do trabalho” depende da quantidade e qualidade do capital posto à disposição de cada trabalhador, e ela cresce com o nível de investimento. Pois bem, o investimento do setor público do Brasil sugere essa relação —veja a ligeira recuperação no governo Lula e sua destruição no de Dilma.
O que explica sua dramática redução? Seguramente não foi a redução da carga tributária/PIB. Entre 1964-94 ela permaneceu em 25%. Com o Plano Real (1995), saltou para 33%, onde está hoje.
As despesas primárias se dividem em correntes e de investimentos. Se forem maiores que a receita, a diferença é coberta por dívida pública, como vem acontecendo. Quando as despesas correntes/PIB crescem o investimento/PIB é a variável de ajuste, porque a receita é constante (33% do PIB), o que “explica” o baixo crescimento.
Os governos dissiparam sua receita no consumo da casta que o controla e estimularam o “rentismo” (outra ideologia?) com uma das maiores taxas de juro real do mundo para sustentar a valorização da moeda.
As consequências foram gravíssimas: crescimento medíocre e piora na distribuição de renda. É tudo o que o Diabo gosta.
Vamos mudar isso apoiando a reforma da Previdência?