Ex-assistente de Ceni é auxiliar de Gerrard e segue torcendo pelo São Paulo

Se fosse necessário resumir a curta carreira do inglês Michael Beale no futebol profissional, daria para dizer que ela está ligada por uma cobrança de falta.

Auxiliar de Rogério Ceni no São Paulo quando o ex-goleiro iniciou a carreira de treinador, em 2017, Beale é hoje um dos assistentes técnicos de Steven Gerrard no Rangers, da Escócia. 

​Gerrard era o craque daquele Liverpool (ING) vice-campeão do Mundial de Clubes em 2005, quando Ceni e o clube do Morumbi conquistaram o título no Japão.

Apesar da coincidência, o inglês garante: a histórica defesa na cobrança de falta quando o jogo já estava 1 a 0 para o São Paulo nunca foi assunto entre ele e o homem que atualmente é seu chefe.

"[Eu e Gerrard] não falamos sobre esse jogo. Mas falei muito sobre isso com Rogério e Pintado [também auxiliar técnico do clube na época]. Foi um grande momento da história do São Paulo", diz Beale, em entrevista à Folha.

Rogério Ceni fez o convite ao inglês após uma visita ao Liverpool, um dos clubes que o ídolo são-paulino visitou durante seus cursos na Europa para tornar-se treinador. Ceni assistiu ao treino do sub-23 comandado por Beale e gostou do que viu. Sempre que pode, o ex-goleiro elogia o inglês e fala da contribuição que ele deu aos seus métodos de trabalho. 

Após deixar o São Paulo e retornar às categorias de base do Liverpool, Michael Beale foi chamado por Gerrard para acompanhá-lo no primeiro desafio do ex-jogador como técnico de uma equipe profissional.

Ídolo do clube inglês, pelo qual jogou por 17 anos, o ex-meio-campista preferiu tomar um rumo diferente ao de Ceni, que iniciou sua trajetória como técnico no clube em que jogou por 25 anos e ganhou o status de maior ídolo da história são-paulina.

Apesar dessa diferença, Beale enxerga semelhanças na forma como os dois encaram o futebol. "Ambos querem que seus times tenham o controle da bola e que joguem com muita paixão e energia. Eles têm níveis muito altos de profissionalismo e tentam transmitir esses valores em suas equipes", analisa.

Beale e Rogério Ceni mantêm contato, apesar da distância. Quem também ajuda a preservar o elo entre os dois é Charles Hembert, francês que chegou ao São Paulo com o ex-goleiro e hoje o acompanha no Fortaleza.

O inglês conta que observa quando pode os jogos da equipe cearense, líder da Série B do Campeonato Brasileiro.

"Ele está mostrando às pessoas que é um técnico muito bom. Gosta de atacar e quer levar emoção aos fãs. Eu acho que o próximo trabalho dele será em um clube muito importante", afirma.

O auxiliar ficou seis meses no clube do Morumbi e pediu demissão dias antes de Ceni ter sido mandado embora pela diretoria tricolor.

Na época, Michael Beale alegou que o projeto esportivo do clube tricolor depois de um semestre de trabalho não era o mesmo que ele, Ceni e a comissão técnica haviam pensado em implementar para 2017.

Só naquele ano, foram negociados David Neres, Luiz Araújo, Lyanco e Thiago Mendes.

Mesmo com a frustração de um trabalho que não engrenou, o inglês continua demonstrando carinho pelo clube nas redes sociais. Além disso, elogia o trabalho da atual diretoria e do técnico Diego Aguirre, que colocou o São Paulo na liderança do Brasileiro ao final do primeiro turno.

"Você pode ver que com Raí, Ricardo Rocha e Lugano o clube toma melhores decisões e incorpora uma melhor qualidade de jogadores para o time. Eu realmente espero que eles possam vencer o Brasileiro este ano. Aguirre está fazendo um ótimo trabalho e os jogadores estão muito unidos."

Depois de se desligar do São Paulo, Beale recebeu propostas para trabalhar no país, mas já tinha firmado o compromisso de voltar ao Liverpool (ING), onde havia trabalhado nas categorias de base. No clube, assumiu o comando do time sub-23.

Convidado por Gerrard para fazer parte de sua comissão técnica, diz estar contente com a nova oportunidade na carreira, mas não descarta retornar ao Brasil um dia.

"Eu curti meu tempo no Brasil, assim como minha família. O futebol [brasileiro] foi bom de viver e aprendi muito compartilhando ideias com os treinadores e os jogadores. Só foi mais curto do que eu planejei, e esse é meu único lamento", completa o inglês.

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