Ex-candidata à Presidência na França critica estrutura machista do poder em livro
A socialista Ségolène Royal, 65 anos, ex-candidata presidencial em 2007 e ex-ministra do Meio Ambiente do governo de François Hollande, lança nesta quarta-feira (31) um livro de memórias, no qual não economiza críticas à estrutura machista e branca do poder na França.
Em “Ce que je peux enfin vous dire” (“O que posso finalmente contar a vocês”), Royal relata dezenas de ataques misóginos e machistas que sofreu ao longo de sua carreira.
A principal reflexão de Royal é sobre o difícil combate das mulheres para alcançar um lugar de importância no centro do poder.
Ela, que perdeu a eleição presidencial em 2007 para Nicolas Sarkozy, de direita, fala sobre as dificuldades que enfrentou como ministra e de ser uma mulher no “círculo de homens brancos e heterossexuais” em torno do então presidente François Hollande, aliás, seu ex-marido, com quem teve quatro filhos.
Na primeira parte, “Mulheres na política: como sobreviver em um mundo de homens”, ela conta seus primeiros momentos como deputada, em 1988.
Em uma de suas primeiras declarações na Assembleia Nacional, ela ouviu um deputado gritar “Tira a roupa!”. Em seguida, todos ao redor começaram a rir, “tudo isso na ausência total de uma reação do presidente da Assembleia e outros deputados”, escreve.
Seu segundo mandato como deputada foi em 1995. “E constato, naquele momento, consternada, que nada mudou muito desde 1988”, escreve Royal.
Além disso, ela conta que “as deputadas mulheres eram sistematicamente retidas na entrada [da Assembleia], com a pergunta infalível: ‘Você é secretária de quem?’”.
Em entrevista nesta quarta-feira à rádio France Inter, ela desabafou: “o pior é ter sua inteligência questionada, ser tratada de louca, alguém que tem ataque de nervos a qualquer momento. Ouvir isso dos adversários faz parte do jogo, mas vindo do seu próprio campo... Nenhum homem político passa por isso e eu quis contar o que uma mulher passa no mundo político e o homem não. São ataques insuportáveis”.
Em outras duas páginas, ela cita ainda os absurdos sexistas que ouviu em 2006 e 2007, durante a campanha presidencial. Foram frases como “Quem vai cuidar das crianças?” ou “a corrida eleitoral não é um concurso de beleza”.