Ex-cheerleaders que denunciaram assédio na NFL saem do anonimato

Algumas de suas antigas colegas de equipe as chamaram de mentirosas e traidoras, e as acusaram de buscar atenção compulsivamente e de desrespeitar todas as mulheres que já foram cheerleaders do Washington Redskins.

No entanto, já que suas acusações geraram protestos e apelos por mudança, as cinco ex-cheerleaders do Redskins que falaram ao The New York Times em maio optaram por aguentar os insultos em silêncio. Elas falaram ao jornal sobre o ambiente de assédio sexual e intimidação que encontravam no trabalho, sob a condição de que seus nomes não fossem revelados.

Agora, no entanto, duas delas estão dispostas a falar abertamente, denunciando as tentativas de desacreditá-las e expondo suas experiências e sua frustração quanto ao que veem como ritmo lento das mudanças propostas para proteger as cheerleaders da NFL contra tratamento degradante.

Elas se chamam Rebecca Cummings e Allison Cassidy e disseram que concordaram em que seus nomes fossem divulgados agora a fim de reforçar a credibilidade de suas acusações, e de inspirar outras mulheres a falar de assédio no local de trabalho.

"Nosso objetivo principal era que o Redskins criasse um ambiente de trabalho seguro para as cheerleaders", disse Cummings. "Mas mesmo depois que expusemos as situações dúbias em que fomos colocadas, o time não agiu para realmente resolver as coisas".

O Redskins conduziu uma investigação de três meses de duração sobre seu programa de animadoras de torcida, depois que a reportagem do The New York Times descreveu exemplos de comportamento aberrante com relação às cheerleaders, entre os quais eventos e interações desconfortáveis com torcedores endinheirados do time, e uma viagem à Costa Rica para fotos, em 2013.

Na viagem, disseram as cinco mulheres, homens que patrocinavam o time foram convidados a assistir a sessões de fotos nas quais as cheerleaders usavam trajes sumários, ou posavam topless. A diretora da equipe de cheerleaders enviou algumas delas para entreter patrocinadores do time em uma casa noturna.

Ainda que a viagem ao resort não envolvesse expectativas de que elas fizessem sexo com os patrocinadores, e que nenhuma das cheerleaders tenha reclamado de danos físicos, as mulheres descreram sua sensação de insegurança e de assédio, por parte de dirigentes do time e de patrocinadores.

A investigação interna do Redskins determinou que a história das ex-cheerleaders era essencialmente verdadeira, mas que continha "grandes exageros", e o time insistiu em que nenhuma cheerleader foi forçada a fazer qualquer coisa contra sua vontade, disse Maury Lane, porta-voz do Redskins.

Mas as queixas levaram o time a promover mudanças nesta temporada a fim de melhorar a segurança das cheerleaders e de se retratar como um ambiente mais familiar.

As mudanças incluem novos uniformes para as cheerleaders que interagem com os torcedores nas arquibancadas, mostrando um pouco menos de seus corpos; esse grupo de animadoras de torcida não faz coreografias em campo.

A sessão fotográfica para o calendário do time este ano, realizada no México, não inclui convites para torcedores e donos de camarotes no estádio do Redskins, e duas policiais acompanharam as cheerleaders para cuidar de sua segurança. As cheerleaders tampouco terão de participar de eventos privados, este ano.

Cummings, 31, e Cassidy, 29, disseram que as mudanças, embora bem-vindas, ficam aquém de suas expectativas de medidas mais fortes para eliminar a cultura do assédio, tal como uma troca no comando do programa, cujos dirigentes costumavam intimidar cheerleaders para impor silêncio.

Ainda que um executivo do Redskins que supervisionava o programa de cheerleaders tenha pedido demissão depois da publicação da reportagem do The New York Times, a diretora da equipe de animadoras de torcida, Stephanie Jojokian, que as mulheres dizem ter orquestrado os eventos nos quais ocorreu assédio, continua a trabalhar para o time.

O Redskins informou que ela não estava disponível para entrevistas, mas no passado Jojokian negou ter colocado qualquer cheerleader em situação de risco.

As duas ex-cheerleaders se declararam surpresas por Jojokian ter mantido seu posto.

Na NFL, diversos times fizeram ajustes em seus programas de animadoras de torcida, depois que as reportagens sobre o Redskins e denúncias de impropriedades em outros times vieram à tona. Alguns processos judiciais e queixas às autoridades foram apresentados contra pelo menos quatro times da NFL este ano

O New York Jets, que em 2016 encerrou por acordo um processo judicial coletivo aberto por suas cheerleaders para pedir por salários melhores, e aceitou pagar indenizações às queixosas, adotou uniformes mais modestos para suas animadoras de torcida, mais parecidos com os que são usados pelas cheerleaders de escolas de segundo grau.

Os uniformes agora incluem vestidos fechados, sem decotes e que escondem a barriga das cheerleaders. Dois times, o Los Angeles Rams e o New Orleans Saints, incluíram homens em suas equipes de cheerleaders, mas não autorizaram que nenhum deles concedesse entrevista ao The New York Times. O Saints também adotou uniformes menos reveladores para as animadoras de torcida, e cancelou seu calendário anual que as mostrava em trajes de banho.

Os dirigentes da NFL tentaram manter distância dos problemas, afirmando que as cheerleaders operam fora do controle da liga, ainda que diversos representantes da organização tenham participado de uma reunião com Sara Davis, advogada que representa algumas das cheerleaders, depois que ela pediu que a liga criasse regras firmes para os programas de animadoras de torcida. A reunião não resultou em acordo.

"Certamente trabalhamos com os clubes e os encorajamos a revisar seus programas", disse Brian McCarthy, porta-voz da liga.

Mas Cummings disse que a NFL não estava fazendo o suficiente.

"As mudanças que alguns times estão adotando são apenas uma forma de esconder as questões realmente sérias, como a necessidade de salários melhores e condições de trabalho mais seguras", ela disse. "A NFL precisa tomar vergonha na cara, deixar de fingir que não está vendo, e começar a tratar as mulheres da maneira certa".

Cummins, consultora de nutrição, e Cassidy, prestadora de serviços ao setor de defesa, começaram a estudar dança quando eram crianças, e terminaram por entrar para a equipe de cheerleaders do Redskins porque queriam uma oportunidade para dançar profissionalmente.

Elas seguiram com relutância o código de silêncio que permeia o mundo das animadoras de torcida profissionais, no qual muitas mulheres temem ostracismo ou demissão caso critiquem seus times publicamente,

Depois que o artigo do The New York Times foi publicado, uma ex-cheerleader do Redskins escreveu em sua página de Facebook que "mesmo que vocês estejam tentando ser anônimas, podem acreditar: nós sabemos", antes de insistir em que as queixosas deveriam devolver seus anéis do time.

As duas disseram ter perdido muitos amigos desde que falaram de suas experiências. Disseram ter ficado chocadas ao ler mensagens de antigas e atuais cheerleaders na mídia social que rotulavam as cinco queixosas anônimas como ressentidas por já não estarem no esporte, e dizendo que elas estavam buscando reencontrar um lugar de destaque ao atacar sua antiga profissão.

"Dá até para pensar que chutei o cachorro de alguém, ou chamei a mãe de uma amiga de feia, quando só o que fiz foi dizer a verdade", afirmou Cassidy.

Elas disseram que no geral gostavam de ser cheerleaders, da adrenalina de dançar diante de 80 mil ou mais torcedores no FedEx Field, e das visitas a organizações de caridade e a hospitais militares, onde conversavam com soldados feridos.

Mas outras experiências de trabalho, momentos em que se sentiram desprotegidas e "oferecidas como prostitutas", nas palavras de Cassidy, as abalaram.

Cummings, que guarda suas recordações do Redskins em uma prateleira na cozinha, ao lado de algumas latas de tinta, e Cassidy disseram que haviam optado inicialmente por falar sem autorizar que seus nomes fossem revelados porque assinaram acordos de confidencialidade quando foram contratadas.

Elas decidiram abandonar o anonimato agora porque acreditam que colocar em destaque a questão do tratamento que as cheerleaders recebem vale o risco de um processo.

Elas disseram não ter participado da investigação do Redskins sobre o programa de animadoras de torcida.

As duas receberam diversos recados de Will Rawson, que descobriram mais tarde ser o vice-diretor jurídico do Redskins. Nas mensagens, ouvidas pelo The New York Times, ele dizia estar ligando da sede do time e que gostaria de fazer algumas perguntas sobre o tempo delas como cheerleaders do time.

Elas não retornaram as ligações porque suspeitavam que o Redskins estivesse apenas tentando determinar que cheerleaders podiam ter violado o acordo de confidencialidade, ainda que Lane, o porta-voz do time, tenha dito que a organização tentou falar com o maior número de pessoas, para realizar uma investigação rigorosa e melhorar as condições de trabalho.

Ele disse que as mulheres não precisavam temer quaisquer ramificações associadas ao acordo de confidencialidade.

Lane disse que o time entrevistou 22 pessoas envolvidas com o programa entre 2011 e 2013, um período em que Cummings e Cassidy faziam parte da equipe. Entre os entrevistados estão Jojokian, a diretora das cheerleaders, e Jamilla Keene, diretora assistente, além de um maquiador, um cabeleireiro e fotógrafos que trabalharam na viagem à Costa Rica.

Ainda que o Redskins tenha afirmado que diversos empregados do time contataram todas as cheerleaders que participaram da viagem à Costa Rica, seja por telefone seja por email —36 cheerleaders participaram do ensaio fotográfico—, pelos menos quatro cheerleaders que estavam na viagem de 2013 disseram ao The New York Times não ter sido contatadas por Rawson ou qualquer outra pessoa do Redskins.

Mesmo antes da conclusão da investigação, algumas poucas cheerleaders apareceram na mídia para afirmar que a organização as havia tratado bem e para defender Jojokian e o programa de animadoras de torcida.

Cummings e Cassidy disseram não estar surpresas, mas decepcionadas, por outras mulheres não terem se apresentado a fim de falar sobre a forma pela qual o time as tratava.

Jojokian nunca hesitou em dizer às cheerleaders da equipe que elas eram dispensáveis, as duas afirmam.

"Eles formaram uma frente unida e nós não, porque aquelas mulheres não falam em meu nome e no nome de muitas outras colegas de equipe que continuam a ter medo de se pronunciar", disse Cummings.

Certa vez, depois que Cassidy recusou um trabalho recorrente que envolvia ir a uma pequena reunião social entre homens, que bebiam e assistiam futebol americano em uma residência privada, ela diz que Jojokian a repreender por "ter uma atitude negativa que arrasta a equipe para baixo".

"É como se as mulheres lá tivessem passado por uma lavagem cerebral para acreditar que é aceitável ser tratada como lixo", disse Cassidy. "Muitas delas têm medo de que apontar para as injustiças leve ao final do programa, ou ao colapso de seu círculo social, mas não precisa ser assim".

Cummings tem dois filhos pequenos e diz que sempre se arrependeu de não ter se pronunciado, e que estava preparada para as reações contrárias.

"Tendo filhos, percebo que quero olhar para o passado e ver que estive do lado certo das disputas, em meu nome e no de outras mulheres", ela disse. "Não aceito a forma pela qual fui tratada, e espero pressionar os times por mudanças reais, e inspirar outras mulheres a falar. Não estamos falando apenas dos problemas das cheerleaders do Redskins".

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