Facebook abre dados para pesquisadores analisarem impacto das redes nas eleições
O Facebook anunciou nesta segunda-feira (29) que irá abrir seus dados internos para pesquisadores estudarem o impacto das redes sociais nas democracias e nas eleições, como parte de um esforço para evitar a manipulação nestas plataformas.
De acordo com a rede social, cerca de 60 pesquisadores de 30 instituições acadêmicas de 11 países foram selecionados após um processo realizado pela entidade de pesquisa Social Sciences Research Council junto ao grupo independente da Social Science One.
No Brasil, dois professores da USP (Universidade de São Paulo) foram selecionados para acessarem a base inteira de dados de compartilhamento de links na plataforma. O colunista da Folha Pablo Ortellado e o pesquisador Márcio Moretto desenvolverão uma pesquisa sobre o consumo de notícias de sites hiperpartidários (são páginas de onde surgem fakenews ou notícias distorcidas).
"Sabemos que tem perfil etário diferente, que as pessoas polarizadas são mais velhas. E esse é o nosso foco principal: confirmar se essa polarização existe mesmo", disse Ortellado.
Antes do escândalo Cambridge Analytica, o Facebook fornecia dados por meio de uma interface digital para pesquisadores, analistas de mercado e empresas, explicou Ortellado. Depois do vazamento de dados que teriam ajudado a eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos e a fazer o Reino Unido pular fora da União Europeia, a situação mudou.
"Essa interface sofreu bastante redução, porque foi um escândalo acadêmico também", afirmou Ortellado.
"Agora queremos ver se há alguma característica demográfica que não identificamos antes devido aos dados limitados. Além disso queremos fazer comparações com a América Latina, porque só o Brasil e o Chile vão participar, então vários outros países não vão ser investigados", acrescentou.
Na América Latina, além da USP, pesquisadores da Universidade Católica do Chile também foram selecionados.
Há grupos de pesquisa também nos centros da Northeastern University, da Universidade de Ohio e da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos; no Instituto de Estudos Políticos da França; na Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan, entre outras.
O Facebook começou a iniciativa de pesquisa no ano passado depois de revelações sobre supostas interferências externas na campanha eleitoral de 2016 nos Estados Unidos e no referendo para o "Brexit" da União Europeia na Grã-Bretanha.
Ele começou a solicitar propostas no ano passado e, nesta segunda-feira, anunciou suas primeiras bolsas de pesquisa.
"Para garantir a independência da pesquisa e dos pesquisadores, o Facebook não desempenhou nenhum papel na seleção de indivíduos ou seus projetos e não terá nenhum papel na condução dos resultados ou conclusões da pesquisa", disseram os executivos Elliot Schrage e Chaya Nayak em um blog do Facebook.
"Esperamos que esta iniciativa aprofunde o entendimento do público sobre o papel das redes sociais nas eleições e na democracia e também ajuda o Facebook e outras empresas a melhorar seus produtos e práticas", disseram.
Os pesquisadores terão acesso às informações internas do Facebook por meio de uma "infraestrutura única de troca de dados para fornecer aos pesquisadores acesso aos dados do Facebook de uma maneira segura que proteja a privacidade das pessoas", escreveram Schrage e Nayak.
"Preocupações sobre desinformação, polarização, propaganda política e o papel das plataformas no campo da informação não diminuíram. Na verdade, aumentaram", ressaltaram.
Com AFP