Familiares alegam descaso e rejeitam negociação judicial com Flamengo
Familiares dos atletas do Flamengo vítimas do incêndio no Ninho do Urubu no último dia 8 deixaram uma reunião de mediação judicial nesta quinta-feira (15) revoltados com o clube.
O processo de negociação que foi iniciado nesta quinta durou menos de quatro horas.
O Flamengo não teria apresentado uma proposta considerada justa pelos familiares, que se sentiram desrespeitados pelo fato de o vice-presidente Jurídico do clube, Rodrigo Abranches, ter deixado a reunião no meio, alegando compromissos mais importantes.
Os advogados do clube que permaneceram na reunião afirmaram que não tinham autonomia para negociar pelo time.
A reunião que daria partida em um processo de mediação judicial do caso foi marcada para a tarde desta quinta-feira. O objetivo seria negociar a indenização às famílias sem a necessidade de abertura de um processo judicial.
No meio da tarde, o desembargador Cesar Cury, do Núcleo de Resolução de Conflitos do Tribunal de Justiça, chegou a dizer que famílias de 13 vítimas (10 mortos e três feridos) aderiram ao processo de mediação judicial.
Horas depois, contudo, parentes das vítimas e advogados deixaram a reunião dizendo que não haveria mais acordo.
O Flamengo não teria oferecido nem metade do que as famílias pleitearam. Desde o início da tragédia, parte das famílias das vítimas estão hospedadas em hotéis do Rio. Ao longo do processo, evitaram fazer críticas mais contundentes à forma como o clube conduz a situação.
Nesta quinta, contudo, sobraram críticas ao Flamengo. Revoltado, o pai do goleiro Christian, 15, Cristiano Esmério, disse que o clube não os tratava com dignidade.
“O Flamengo está de brincadeira com a gente, está de brincadeira com a nossa dor, aos nossos filhos. O Flamengo não consegue entender a dor pela perda dos nossos filhos. Não tem preço a perda dos nossos filhos, mas precisávamos ser respeitados, ter um respeito digno”, disse.
Ele criticou o descaso do clube com a situação emocional das famílias.
“Desde quando meu filho morreu ninguém me ligou. Ninguém deu atenção, ninguém nos procurou. Mandar o psicólogo e pagar um enterro não fazem mais do que a obrigação. Psicólogo a gente consegue”.
Gerou revolta a ausência na reunião do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.
“Existe compromisso mais importante que este com as famílias das dez vítimas? Nossos filhos não eram importantes para o Flamengo?”, questionou.
Outra mãe revoltada com o descaso foi a do Arthur Vinícius, 14, Marília Barros. Partiu dela a sugestão de que as indenizações fossem negociadas coletivamente.
Havia o temor de que famílias dos atletas com maior potencial na carreira recebessem propostas mais altas do clube.
"Nossos filhos morreram juntos e nós temos que lutar juntos", disse a mãe, que se queixou da forma como os parentes foram tratados.
Ela explicou que os familiares estão no Rio a disposição para reuniões a hora que o Flamengo solicitar. Em troca, reclamou, receberam funcionários sem poder de decisão em uma reunião esvaziada.
"Eles tinham que ter mais respeito com a gente".
Segundo a advogada da família do zagueiro Pablo Henrique da Silva Matos, 14, Mariju Maciel, o objetivo no início da reunião seria de cooperação, mas o clube teria feito de tudo para desmobilizar as famílias.
Ainda de acordo com a advogada, uma das ofertas apresentadas ao Flamengo seria de uma indenização coletiva que giraria em torno de R$ 150 milhões. Os advogados mostraram que o valor seria cerca de 15% do orçamento do clube para este ano.
Advogados do Flamengo, segundo ela, não quiseram discutir a proposta. Eles teriam apresentado valor que seria a metade do que as famílias desejariam.
O caminho natural será tentar obter as indenizações na Justiça, já que, segundo o pai do goleiro Bernardo, Darlei Pisetta, a proposta do Flamengo foi "pífia".
"Fiquei muito chateado com o tratamento do Flamengo, decepcionado", disse Pisetta. Ele afirmou que a torcida costuma "abraçar o clube" em momentos de dificuldade, mas o clube não estaria, segundo ele, "abraçando" os parentes das vítimas.
"O Flamengo está decepcionando sua torcida com essa atitude. Eles estão fazendo chacota com a gente", disse o pai.
A revolta com o clube começou na última quarta-feira quando o Flamengo rejeitou uma proposta de indenização elaborada por um grupo formado pela Defensoria Pública, Ministério Público e Ministério Público do Trabalho.
Pela proposta, o Flamengo teria que pagar para cada família R$ 2 milhões a título de indenização, além de um salário de 10 mil por mês por período de 30 anos.
Já o Flamengo ofereceu valores mais baixos, com indenização de R$ 300 a R$ 400 mil por família, mais um salário mínimo mensal pelo período de 10 anos.
"Nós apresentamos um patamar mínimo de indenização e as famílias partiriam para a negociação individual com base nesses valores, mas o Flamengo rejeitou. Só que o clube veio para essa reunião sem qualquer proposta concreta", disse a defensora pública, Cíntia Guedes.