Fechamento de jornais nos EUA prejudica cofres públicos, diz estudo

Um estudo de três economistas americanos avaliou as consequências do fechamento de 296 jornais em diversas partes dos Estados Unidos e concluiu que a falta da imprensa local e de sua fiscalização sobre o poder público afeta negativamente o governo —mais especificamente, os cofres públicos.

No intervalo de três anos após o fechamento dos jornais, os juros dos títulos públicos municipais em suas áreas de cobertura cresceram, em média, entre 0,05 ponto percentual e 0,1 ponto percentual a mais do que em regiões que não enfrentaram a perda de veículos de imprensa, de acordo com o estudo. 

Na prática, esse aumento significa que o governo está pagando mais para pegar dinheiro emprestado, o que impacta diretamente o bolso do contribuinte.

Parece pouco, mas, segundo os autores, é um desvio estatisticamente significativo e encontra repercussão em outros estudos que demonstram que a cobertura da imprensa tem relação direta com o desempenho de investimentos. 

“Isso se acumula ao longo de anos, décadas, e tem um impacto considerável no aumento dos custos do governo local”, afirmou à Folha a professora Chang Lee, da Universidade de Illinois, em Chicago, uma das autoras da pesquisa. “Ao final, quem financia isso é o cidadão.”

De acordo com o estudo, o fechamento de um jornal traz mais dificuldades para os investidores avaliarem a qualidade dos projetos e o compromisso das autoridades envolvidas com o bem público.

É por isso que os juros sobem: isso quer dizer que o investidor considera esse título mais arriscado do que outros.

Os títulos municipais são usados pelos governos para levantar dinheiro para despesas obrigatórias ou para um projeto específico. Nos EUA, eles são uma das principais formas de arrecadação de um governo, além dos impostos.

A pesquisa ainda avalia que, no mesmo período, houve uma queda na eficiência governamental desses municípios, com base em indicadores como o número de funcionários públicos, o gasto com pessoal e a cobrança de impostos —todos subiram na comparação com cidades que não tiveram perda de jornais locais. 

“Esse é o outro lado da história: o mecanismo que está por trás do aumento de juros”, comenta Lee.
Só com salários de funcionários, por exemplo, a diferença chega a 1,3 ponto percentual, o que, em um município de tamanho médio, representa um gasto adicional de cerca de US$ 1,4 milhão (R$ 5,3 milhões) por ano.

Os autores citam o exemplo do Rocky Mountain News, na região de Denver, no Colorado e que fechou em 2009. Entre as coberturas ao longo de seus 150 anos de existência, o veículo revelou uma parceria público-privada que violou leis federais, um esquema de exploração de trabalhadores no aeroporto local e desvios em verbas da polícia.

Após o seu fechamento, os juros dos títulos municipais de Denver subiram 0,3 ponto percentual, a despeito do bom desempenho da economia da cidade.

“É um demonstrativo de que o jornal era um importante agente de monitoramento do governo local, oferecendo informações aos cidadãos sobre como seus impostos eram gastos”, afirmam os autores, que incluem ainda os professores Dermot Murphy, da Universidade de Illinois em Chicago, e Pengjie Gao, da Universidade de Notre Dame.

No total, a pesquisa identificou um encolhimento da imprensa local em 204 municipalidades americanas, espalhadas por 41 estados. Foram cidades onde o número de jornais impressos caiu para menos que três, no intervalo entre 1996 e 2015.

Os economistas concluem que, nessas condições, há um “vácuo informativo”, pela falta de jornalismo investigativo em nível municipal. 

Os dados colhidos pela pesquisa também indicam que ele não está sendo suprido por veículos nacionais nem online, que comumente substituem os jornais impressos.

“Esses veículos não necessariamente são um bom substituto para o jornalismo investigativo de alta qualidade e com fontes locais”, afirmam os autores. “A longo prazo, talvez um equilíbrio seja possível.”

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