Festa no Sambódromo do Anhembi | Samba e liberdade
A Acadêmicos do Tucuruvi passou pelo Grupo Especial de São Paulo na madrugada de hoje dando uma aula de história do Brasil e não poupou nas críticas, sobrando para políticos corruptos, violência contra a mulher e até o povo "engolindo sapo".
Com 3.000 componentes, 22 alas e cinco carros alegóricos, a Tucuruvi apostou no samba-enredo "Liberdade - O Canto Retumbante de um Povo Heroico" para quebrar o jejum e tentar conquistar seu primeiro título do Carnaval.
A passagem da agremiação pelo sambódromo teve um gostinho ainda maior pela tragédia ocorrida na edição do Carnaval do ano passado, em que um destruiu 90% das fantasias dias antes do desfile.
Nova rainha de bateria
Cintia Mello foi a escolhida para substituir Daniele Albuquerque, que desistiu de desfilar neste ano. A fantasia dourada com ornamentos azuis e grandes penas cuidadosamente colocadas na cabeça foi feita em três dias, mas a rainha de bateria contou com a ajuda de 10 familiares para que tudo ficasse no lugar para brilhar no Anhembi.
Escravidão e resistência
Com enredo assinado por Fábio Jelleya, Igor Soró, Henrique Barba, Tim Peixoto, JC Castilho, Leandro Augusto, Edu Borel, Brunão Govetri, Marcelo Nunes, Newtinho e Leonardo Bessa, a escola falou sobre a luta pela liberdade desde o descobrimento do Brasil até os dias atuais, marcados por momentos atribulados na vida política.
O abre-alas deu destaque para a invasão dos europeus no país, escravizando os índios e dominando o Brasil no início do século 15. O desfile também representou os tempos da escravidão e a coroa portuguesa, que levava parte da riqueza brasileira por meio de impostos privando o povo da liberdade.
Críticas
Além de falar sobre escravidão, a Acadêmicos do Tucuruvi não teve medo de apontar as feridas do Brasil. Em um carro alegórico, a diversidade sexual foi celebrada, mostrando ainda cartazes criticando a violência contra a mulher e a homofobia. Em outro momento, a agremiação lembrou que o "poder emana do povo" e representou em uma ala a compra de votos feita por políticos. A corrupção também foi representada com uma grande balança no último carro alegórico, questionando se a Justiça é realmente "cega" no Brasil.
Inclusão
A Tucuruvi o ainda provou que Carnaval não tem restrições. O ritmista Alessandro, que é deficiente visual, realizou o seu sonho de desfilar pela primeira vez em uma bateria. Ele foi ajudado durante o percurso no Anhembi pela coordenadora da bateria, que o informava as orientações e as mudanças de ritmo do samba-enredo.
Volta por cima
A Tucuruvi lavou a alma no Anhembi para deixar para trás o incêndio que atingiu o galpão da agremiação no ano passado, dois dias antes de sair no sambódromo. Por conta do incidente, a escola ficou imune na edição do Carnaval de 2018. Agora, de igual para igual, os mais de três mil integrantes fizeram um desfile completo para tentar vencer pela primeira vez o Carnaval de São Paulo.
Confira a letra do samba
"Liberdade, o Canto Retumbante de Um Povo Heroico"
Tucuruvi espalha um canto pelo ar
Vai ecoar, vai ecoar
Meu brado é forte, quero mudança
Avante filhos da Esperança!
Senhor, escutai a nossa voz!
A prece que vem do coração
Eu sei que as feridas vão secar
No dia da libertação
No seio da mata surgiu
Um grito de Guerra
Na luta contra a força do invasor
O nosso chão sangrou
Já fui lamento do balanço do Tumbeiro
E subo o morro feito um nobre partideiro
Ôôô ou resistência na dor!
Ôôô ou resistência na dor!
Quando o Sol vai brilhar, meu Deus?
Reluzindo Liberdade
Pra tirar do papel, o sonho
De viver com dignidade
Vem me dê a mão
Preciso de você que tanto prometeu
Por que se esqueceu dos seus ideais?
Somos todos iguais
Caminhando em contra o vento, eu vou
Pra quebrar as correntes
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Apesar de você
Vamos romper as barreiras
Erguer as bandeiras, por mais união
Oh, meu Brasil
A liberdade emana do amor
Meu direito à igualdade não representa favor!