Fica, Tite!... Será?
Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite! Fica, Tite!!
Desde a eliminação da seleção, essa frase domina a pauta do futebol do Brasil. Está nos jornais, TVs e redes sociais. Daqui a pouco, vai virar uma palavra só: Ficatite.
O argumento básico do discurso é que o treinador fez um bom trabalho e merece continuar.
Mas a maioria vai além: a manutenção de Tite seria um avanço da CBF, do futebol brasileiro e até do Brasil. Manter o técnico mostraria um amadurecimento nacional. Romperia com a tradição de, após um fracasso, recomeçar tudo do zero.
E, quando as coisas começam a ficar tão emocionais, a luz amarela acende.
Por que Tite virou unanimidade? A seleção jogou bem, mas será só isso? Não. É uma identificação pessoal.
Além de seu conhecimento em futebol, os brasileiros enxergam em Tite várias qualidades que acham que faltam ao país.
Ética – Numa comunidade abalada pelos escândalos de corrupção, honestidade e ética viraram obsessão.
Confiança/otimismo – Quem olha para o futuro do Brasil e vê um sol no horizonte?
Comprometimento – O que somos senão o país dos feriados e do jeitinho?
Sinceridade – Os brasileiros adoram quem explode, chora, rola no gramado etc. E Tite vai além, até confessa erros.
Equilíbrio – Diante de 200 milhões, para quem tudo é maravilhoso ou trágico, Tite é uma voz de serenidade.
E não importa se Tite é ou não assim. Importa como ele é visto.
Conta também a favor de Tite a falta de opções.
Renato Gaúcho está em alta no Grêmio, mas é quase seu oposto: Malandro, intuitivo e vaidoso, seria o nome perfeito se buscassem um novo Felipão. Mas, depois dos 7 a 1, o técnico do penta ficou meio queimado.
Fábio Carille tem um ótimo início de carreira. Mas a questão é justamente essa: está no começo. E, para ter outro Tite, é melhor manter o original.
Cuca foi campeão no Palmeiras, mas depois criou muita confusão. E esse negócio de nomear comentarista de Copa para ser técnico não tem dado certo. Falcão e Dunga são exemplos.
Mano Menezes é parecido no jeito de trabalhar. Gosta de ciência, de time equilibrado. Mas sua primeira passagem na seleção não foi boa. E não gera empatia como Tite.
E um estrangeiro? Basta ver o que disseram jogadores, jornalistas e torcedores na Copa para perceber que conviver com um estrangeiro sem uma experiência anterior no país será um grande desafio. E, dos que têm, nenhum convenceu.
Mas, realmente, nada disso importa.
A não ser que não queira, Tite vai continuar. Basta ver quase todas as nomeações anteriores dos técnicos da seleção. A tradição da CBF é responder a um anseio da sociedade –e principalmente da imprensa esportiva.
A seleção viveu na balada em 2006? Contrata-se Dunga para pôr ordem na casa. Os brasileiros estavam inseguros com Mano Menezes? Então se contrata não um, mas dois campeões mundiais para dirigir a seleção na Copa do Brasil. Faltou coragem ao Brasil em 2014? Chama-se Dunga de novo. Dunga era criticado em 2016 por falta de conhecimento e títulos? É a vez de Tite.
Mas, se Tite ficar, não poderá ser esse da Copa da Rússia. O técnico cometeu erros importantes. O principal foi não ter controlado Neymar.
A seleção gastou uma enorme energia para criar as melhores condições para o camisa 10 brilhar –e ele não brilhou. E com isso se descuidou de outros aspectos.
Tite não foi capaz de ver que sem Casemiro, o Brasil precisa de reforço na marcação. Não viu que era Casemiro e não os midiáticos Neymar e Thiago Silva quem desequilibrava a favor da seleção.
E, contra a Bélgica, Tite foi surpreendido pelo mesmo esquema que seu pupilo Carille usou neste ano no Corinthians.
Já ouvi que “não se pode cobrar perfeição de Tite”, como se dissessem que, como Deus não pode assumir o cargo, Tite é a melhor opção.
Já que nem Deus, nem melhores técnicos podem vir, então iremos de Tite. Fez um bom trabalho, é inegável. É a decisão correta.
Mas achar que isso é um grande passo para o hexa –e principalmente para o Brasil– é um tremendo autoengano.