Filme sobre a Segunda Guerra exibe o temor ao outro que está na raiz do racismo
A fotografia em preto e branco dá o tom dessa narrativa austera sobre a perseguição aos judeus na Segunda Guerra. No ano que marcou o fim do conflito, uma vila húngara distante do campo de batalha tem seu cotidiano abalado pela chegada de dois desconhecidos. Em meio aos preparativos de um casamento, todos ficam em pânico com a possibilidade de que eles sejam emissários de uma família judia delatada aos nazistas pelos próceres locais, que assim se apropriaram de seus bens. A simples presença dos estranhos desperta a culpa pela traição e leva as relações locais ao colapso —numa metonímia perfeita para o temor ao outro que está na raiz do racismo e do genocídio.
1945. Direção: Ferenc Török. Elenco: Péter Rudolf, Dóra Sztarenki, József Szarvas . Produção: Katapult Film (2017). Na Apple TV
Livro
Acidez com ironia
Em uma de suas últimas obras publicadas em vida, o ensaísta liberal José Guilherme Merquior (1941-1991) traça um panorama erudito e crítico da vertente do pensamento de esquerda de autores como Lukács, Sartre e Marcuse, refratários ao mecanicismo do marxismo ortodoxo (ou soviético). Em tempos de cegueira recíproca entre conservadores e progressistas, é precioso ler um debate de alto nível, em que mesmo os momentos mais ácidos são atravessados por fina ironia.
O Marxismo Ocidental. Autor: José Guilherme Merquior. Editora: É Realizações (2018, 352 págs., R$ 74,90)
Disco
Constelação de ressonâncias
Almeida Prado (1943-2010) dedicou a diferentes pianistas as partes que compõem “Cartas Celestes”. Entre eles, o capixaba Scopel, que neste quarto CD conclui a gravação integral das 15 peças para piano solo do ciclo. Inspirada nas configurações do céu brasileiro, trata-se da obra máxima do importantíssimo compositor santista, que emprega harmonia “transtonal” para criar uma linguagem de ressonâncias.
Almeida Prado: Cartas Celestes, vol. 4. Artista: Aleyson Scopel. Gravadora: Grand Piano (2018, R$ 81,20)