Fracasso coletivo

Gosto de brincar que o melhor modo de uma escola melhorar sua nota no Enem é elevando o valor das mensalidades. Pelo menos desde o Coleman report, de 1966, sabe-se que a condição socioeconômica do estudante é o fator que melhor explica seu desempenho acadêmico, importando mais do que variáveis com mais cara de educacionais como qualidade dos professores, investimento por aluno etc.

Reportagem publicada nesta Folha na sexta (29) mostra que uma de cada três escolas de elite do país tem seu desempenho no Enem menor do que o esperado para a faixa de renda do público que as frequenta. Dos 1.163 colégios com estudantes de nível socioeconômico “muito alto”, “alto” ou “médio alto”, 36% ficaram aquém dos patamares estatísticos ajustados para cada um dos grupos.

Esses achados são um indício de que a má qualidade da educação brasileira não está restrita ao sistema público como muitos imaginam, atingindo também segmentos de elite. Essa impressão é reforçada pelo desempenho dos brasileiros em provas internacionais como o Pisa, no qual os 10% mais ricos se saem tão bem quanto os 10% mais pobres do Vietnã.

Embora o individualismo ocidental goste de cultivar a imagem do gênio autossuficiente, que faz tudo sozinho, pessoas, empresas e instituições são muito mais interdependentes uns dos outros do que normalmente se supõe. O próprio ambiente em que as escolas de elite operam impõe limites para quanto elas podem destacar-se.

Se o nível médio dos professores no Brasil é ruim, mesmo a faixa dos melhores estará abaixo da de nações em que o padrão é mais elevado. Escolas também dependem de fornecedores e prestadores de serviços cuja excelência (ou falta dela) impacta no produto final, que é a educação.

Se a elite brasileira imagina que conseguirá isolar-se dos problemas que afetam o país, está muito enganada. É claro que o processo nunca é 100% uniforme, mas nações prosperam ou fracassam de forma coletiva.

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