Governador do RS dá aula de boa política
Em tempos de frustração com a retomada da economia e de dificuldades na construção da agenda de reformas, o jovem governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, deu uma aula de boa política.
Em pouco mais de quatro meses, o governador construiu uma coalizão na Assembleia Legislativa e aprovou uma medida impressionante para quem acompanha a história do estado.
Há décadas, o Rio Grande do Sul insiste em uma agenda de intervenção do setor público no setor privado, em meio ao descontrole dos gastos públicos. Mesmo sem recursos para cumprir obrigações básicas, como pagar em dia servidores, fornecedores ou a sua dívida com o governo federal, sucessivos governadores insistiram em medidas paliativas e liminares judiciais para não cumprir com suas obrigações.
Poucos estados têm sido tão resistentes quanto o Rio Grande do Sul à venda de estatais para reduzir a sua dívida ou a enfrentar o grave problema dos gastos com folha de pagamentos, que asfixia a capacidade do setor público de exercer suas funções básicas.
A tradição antiliberal do estado chegou obrigar, em sua Constituição, a realização de plebiscitos para a venda de empresas estatais. Temas que deveriam ser comezinhos na gestão do estado foram transformados em símbolos pétreos do velho nacional-desenvolvimentismo e do retrocesso.
O pior é que o Rio Grande do Sul tinha tudo para ser um exemplo para o país. Sua história permeada por imigrantes empreendedores, a maior escolaridade da sua população, as suas muitas cidades vibrantes no interior e as suas boas universidades permitiram o notável desenvolvimento da região durante boa parte do século 20. Porto Alegre parece uma cidade de outro país, com seu sofisticado mobiliário urbano.
Desde o fim do século passado, porém, o estado optou pelo retrocesso. As seguidas intervenções do poder público tecnicamente mal feitas exemplificavam as medidas populistas e as bravatas típicas do Brasil velho.
Tristemente, o Rio Grande do Sul tornou-se a nossa Argentina, o país que prometia muito e optou pelo empobrecimento.
O governador Eduardo Leite, porém, mostrou que nem tudo está perdido. Na contramão dos novos eleitos que continuam em campanha eleitoral fazendo balbúrdia nas redes sociais, o jovem governador fez política da melhor qualidade.
Conversou, negociou, ouviu e construiu maioria na Assembleia Legislativa.
Para mostrar que não está de brincadeira, começou com o mais difícil e fez uma reforma inesperada e audaciosa. Aprovou a proposta de emenda à Constituição estadual que retira a obrigatoriedade de realizar plebiscito para vender empresas estatais.
Bom começo de uma jornada que será longa, afinal são muitos os desafios que o Rio Grande do Sul criou para si mesmo em seguidas administrações atrapalhadas.
Pelo visto, os mais velhos têm muito a aprender com alguns dos mais novos.